48 dias a trabalhar de graça e as declarações de Lucília Gago

Caro leitor,

Há precisamente uma semana foi assinalado o Dia Internacional da Desigualdade Salarial. O dia tem como objetivo chamar a atenção para o slogan “igual trabalho, igualdade salarial”, lutando contra diversas formas de discriminação no trabalho, incluindo aquelas que penalizam as mulheres.

Desde 2019, o barômetro das diferenças salariais entre homens e mulheres, o que nos dá informações sobre se homens e mulheres recebem o mesmo salário pelas mesmas funções ou cargos.

O barómetro mais recente, publicado em julho, contém dados relativos ao ano de 2022. Mostra que as mulheres ganham menos 13,2% que os homens, o que se traduz numa diferença média de 160 euros por mês, em desvantagem para as mulheres.

Ao publicar este barómetro, a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) traduziu “em detalhe” o que significa aquela vantagem. “Considerando esta diferença, no salário base, seria como se as portuguesas, em 2022, tivessem trabalhado 48 dias sem receber nenhum salário pelo seu trabalho”. Ou seja, trabalhavam de graça no lugar do trabalho remunerado.

O número tem vindo a melhorar: as contas da CITE indicam que, quase uma década antesuma mulher teria que trabalhar mais 65 dias por ano para receber o mesmo salário que um homem.

Deixando os números de lado, o problema parece ser difícil de resolver. Muito do que acontece no mundo do trabalho, nesse sentido, tem a ver com questões culturais, que resistem às leis, por melhores que sejam.

A este respeito, todos nos lembramos do recente declarações do Procurador-Geral da República no Parlamento quando relacionou os constrangimentos do Ministério Público com o número de mulheres na estrutura. Lucília Gago afirmou que “o peso do sexo feminino é hoje superior a dois terços ou próximo dos 90% se for considerada a faixa etária até aos 30 anos”. “Esta circunstância constitui um fator de agravamento de constrangimento por situações de gravidez, gravidez de alto risco, ausências por licença médica para assistência a filhos menores, gozo de licença parental (…)”, detalhou.

O relatório de 2023 confirma a preponderância das mulheres em Ministério Públicoonde existiam 1.722 magistrados, dos quais 68,7% (1.183) eram mulheres e 31,3% (539) homens. Apenas no grupo dos magistrados com 60 ou mais anos o número de magistrados do sexo masculino é ligeiramente superior ao número de magistradas do sexo feminino.

O que não é estranho quando se olha para os alunos matriculados nos cursos de Direito. As estatísticas oficiais revelam que no ano letivo 2022/2023 havia 15.360 estudantes em cursos de Direito oferecidos por universidades públicas e privadas, dos quais 67% (10.393) são mulheres e apenas 33% (4.967) são homens.

A feminização do poder judicial não parece provável que mude num futuro próximo. A mudança para a igualdade entre homens e mulheres no trabalho deve ser cultural. E tanto eles quanto elas desempenham um papel fundamental.

O caminho – ainda que com solavancos – parece estar avançando em diversas áreas, como divisão da licença parental entre homens e mulheres.

Existem razões de equidade para defender a igualdade entre homens e mulheres no trabalho, mas também motivações económicas. Para o Dia da Mulher, os líderes do Banco Europeu de Investimento, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento defenderam, num artigo de opinião no Expressarque “a mobilização de todos os talentos disponíveis maximiza a produtividade e a competitividade”. Isto pode começar hoje, em todos os escritórios.

Trabalho extra

Um laboratório sobre igualdade no trabalho

Ainda no que diz respeito à igualdade entre homens e mulheres no trabalho, a CITE lançou este mês o Laboratórios de Igualdade. Uma iniciativa composta por três módulos de formação, com duração de três horas cada, e todos em outubro. Os inscritos terão formação nas seguintes áreas: “A Situação das Mulheres e dos Homens no Mercado de Trabalho”, “Instrumentos e Estratégias de Intervenção para a Promoção da Igualdade e Não Discriminação entre Homens e Mulheres” e “Enquadramento Legal”.

Salário mínimo poderá atingir os 870 euros em 2025

Ó salário mínimo nacional poderá chegar aos 870 euros no próximo ano, caso a proposta que o Governo preparou para a reunião de concertação social seja bem sucedida. O valor poderá ser finalizado sem acordo de todos os parceiros (empregadores e sindicatos), sendo necessário que o executivo finalize esta proposta através da aprovação em Conselho de Ministros. Este valor ultrapassa os 820 euros brutos que os trabalhadores recebem este ano e fica acima dos 855 euros que estavam previstos no acordo de rendimentos.

O último banqueiro em Portugal

Maria Cândida Rocha e Silva lançou o Banco Carregosa, que lidera aos 80 anos, e foi a primeira corretora mulher em Portugal. Em entrevista que ela concedeu Diário de Negócios defende que “talvez os empresários devessem ter mudado mais”, fala sobre a forma como a geração mais jovem se relaciona com o trabalho e o facto de os gestores nem sempre terem cuidado do bem-estar dos trabalhadores.

Alertando que “as generalizações são sempre muito perigosas”, Maria Cândida Rocha e Silva entende, relativamente à relação dos jovens com o trabalho, que “as pessoas não estão tão preocupadas com o trabalho, em querer ser melhor, em querer fazer. um pouco de falta de interesse.”

Em março, no Dia da Mulher, em entrevista ao PÚBLICO, declarou: “Nunca senti que ser mulher fosse uma desvantagem”. E ele estava se referindo ao trabalho. Na época ela disse:

– Sempre achei que era uma grande vantagem.

-Mesmo neste caso, numa profissão onde se exigia virilidade?

-Nada. Mas o que é essa virilidade? Acho que sou muito mais viril, olha que chato… Nunca foi uma desvantagem.

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