Texto alternativo

Os artigos elaborados pela equipe do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa utilizada no Brasil.

Acesso gratuito: baixe o aplicativo PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

O viticultor português João Tavares Pina, 64 anos, natural de Penalva do Castelo, Viseu, perdeu a casa onde vivia e 85% dos 15 hectares de plantações de uva em Quinta da Bela Vista, na região do Dão, em incêndios ocorridos na semana passada. A pronta solidariedade de vizinhos e comerciantes – muitos dos quais eram brasileiros – significou que jogarcomo é chamada, tinha esperança de retomar a produção de vinho na restante área, de apenas 3 hectares.

Segundo Joca, a propriedade total é de 50 hectares, mas a parte destinada à viticultura foi herança Antiga casa de família, com muitas lembranças. Com diversas variedades cultivadas, orgânico e centenárioo produtor, com a voz embargada, revela que “a vinha tinha acabado de ser enxertada para produzir há pouco mais de um ano”. Ele estima o prejuízo em cerca de 1 milhão de euros (R$ 6 milhões). O produtor é reconhecido pelo seu vinho tinto Rufia, que tem ampla aceitação no mercado.

Não temos seguro para este tipo de situação”, destaca. Acrescenta que as garantias existentes são apenas para a colheita e em caso de geadas. Para jogartudo o que ele pode fazer é reconstruir tudo o que o fogo destruiu. “O A primeira fase dessa loucura ficou para trás”, afirma.

Apesar do golpe, o produtor afirma que não ficará de braços cruzados. “Recuperei a motivação”, garante. Ele explica que seus vinhedos são orgânicos, sem uso de pesticidas e agrotóxicos, o que, para ele, é um diferencial no mercado.

Joca é só gratidão. “Confio nos amigos que me apoiam neste momento e sublinho, portugueses e do outro lado do Atlântico”, salienta. “Vou dar uma cambalhota bem maior agora”, diz. Em outras palavras, isso vai mudar as coisas.

Cerca de 85% das plantações de uva foram consumidas pelo fogo
Arquivo pessoal

Para que acontecimentos como o que devastou a sua produção, pede às autoridades portuguesas medidas eficazes conter a exploração madeireira e a desertificação na região, o que facilita ocorrência de incêndios.

Compra antecipada

Dentro da corrente de solidariedade que abraçou João Tavares, o brasileiro Marcos Malafaia, 56 anos, residente em Braga, onde tem uma adega, antecipou comprar ao produtor os vinhos que foram salvos das chamas. Ele passou a divulgar a bebida na internet e exportou parte para o Brasil —foi enviado um contêiner com garrafas de vinho.

Malafaia destaca que, como a adega foi preservada do incêndio, foi pessoalmente recolher as garrafas e iniciou uma campanha de revenda, com descontos, para tentar ultrapassar as dificuldades que Joca enfrenta.

O brasileiro faz questão de ressaltar que não se trata de filantropia, mas de reconhecimento pela história do vinho que Joca produz e que, neste momento, precisa de ajuda. “Ele perdeu a casa e está dormindo na casa de amigos e, como sua recuperação é lenta, precisa de apoio”, enfatiza.

A casa do viticultor João Tavares Pina também não escapou às chamas
Arquivo pessoal

Segundo Malafaia, o Joca é um precursor do vinho natural, que implementou há 25 anos e que, durante muito tempo, pouca gente conhecia. “Tenho garrafas de 2002, que mantêm textura e qualidade até hoje”, explica. De Braga são duas horas de autoestrada até à Quinta João Tavares Pina Vinhosem Penalva do Castelo, a 500 metros de altitude, num vale com terreno granítico e argiloso, rodeado de mata. “Uma lição de vida que precisa continuar”, afirma.

Fuente