O mundo segundo Burhan Sönmez, Ernesto Neto e Vampire Weekend

“Posso ir para a Turquia? Posso. Sem medo? Não. O medo está sempre presente, porque o perigo existe. Este é o mundo em que vivemos. Não creio que alguém como eu possa se sentir seguro.”

E Burhan Sonmez, um curdo de origem turca exilado em Londres, que o confessa numa entrevista a Isabel Lucas. O pretexto é chamado Pedra e Sombraum romance portentoso, o primeiro livro de Sönmez publicado em Portugal.

Desconhecido para a maioria, “é um dos autores mais originais e consistentes da literatura atual”, escreve Isabel. Ele, tal como outros autores curdos, está a inventar literatura numa linguagem não padronizada. “Cada aldeia, cada tribo tem seu sotaque, seu dialeto e seu vocabulário. Que tipo de frase vou formar? Onde devo colocar o verbo, no meio ou no final da frase?”

O curdo é uma “língua proibida”, “uma espécie de ferida que sangra sempre. Falamos uma língua em casa, na aldeia e numa certa idade; de ​​repente, percebemos que essa língua é perigosa”.

Em Canção do Aumento, Andreia C. Faria, o maior nome da poesia portuguesa contemporânea, regressa à prosa para falar do nosso tempo, sem propor receitas ou soluções. Diante da “miséria da imaginação”, o que fazer? Talvez volte.

“Acaba por ser uma investigação muito pessoal sobre o país pobre dos anos 70 e 80 do qual os nossos pais nos libertaram, com engenho e generosidade. E agora vemos que o sucesso material disfarçou algumas das misérias. e, no espaço estrito da escrita, procura algo mais vivo, mais autêntico, uma ancestralidade, um tempo mítico que nunca passa a existir a menos que esteja lá, na escrita.”

É a maior escultura feita por brasileiros Ernesto Neto e está no MAAT, em Lisboa. Em Nosso Barco Terrestre Tambor podemos tocar a obra e cheirá-la, dançar, tamborilar, sentir o chão. “Este é o nosso barco”, afirma o artista em conversa com José Marmeleira. “Para onde queremos ir, com tantas guerras?”

E a entrevista que Lias Saoudi​ (Família Branca Gorda) Nos dê? Uma maravilha: é sobre os absurdos do rock’n’roll, é sobre o que os humanos fazem com este planeta. Três citações como aperitivo:

“Uma banda é como um casamento com um monte de gente diferente. Quem aguenta ser casado com um monte de gente diferente?”

“Havia alguns macacos. Eles evoluíram a partir de peixes, você sabe, e então ficaram entusiasmados com a construção de coisas úteis. De repente, todo o universo foi pego nessa tecnologia de cabos e silicones. Mas tudo começou com esses macacos muito egocêntricos e muito , macacos muito vaidosos “.

“Estamos basicamente adoçando a merda. Está tudo indo pelo ralo e o melhor que podemos esperar é algum tipo de efeito decorativo.”

O mundo de Ezra Koenig está cheio de lugares. Os versos evocam cidades como metáforas, símbolos, memórias, referências encerradas em mecanismos mentais para os quais apenas o cérebro principal por trás do Fim de semana de vampiro tem o código para decifrar. António Rodrigues e José Alves (infográfico) mapearam esta cabeça, a mesma que nos deu o novo álbum, Somente Deus estava acima de nós.

Também neste Épsilon:

– Mais músicas: novos álbuns de Maria Timony, Eme e Claire Rousay;

– Cinema: Não espere muito do fim do mundo; Para Sombra de Caravaggio; A Teoria Universal; Matéria; Suave e silencioso; Profissão perigosa;

– Dança: João dos Santos Martins com o ouvido pressionado para o presente;

– Exibição: Francisco Trepa e a escultura como suporte da imaginação;

– Televisão: Francisco Noronha escreve sobre 25 anos de Os Sopranos.

Leitura feliz!


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