"Perguntaram-me por que não comemorei o gol contra o City... e eu tive meus motivos"

Fede Valverde tem um Liga dos Campeões na sua história, a de 2022, que veio de mãos dadas com as famosas reviravoltas. Dois anos depois, a história repetiu-se parcialmente com o que foi vivido antes do Manchester City e Bayernalgo que o meio-campista uruguaio quer destacar, “Muita gente pensa que é fácil chegar a uma final, mas é muito complicado”. E os homens de Carlos AncelottE, quem nunca deixa de acreditar, juntos estão superando todas as pedras que encontraram pelo caminho. Um deles, também superado, marcou aos 15: “Se me disserem para jogar contra o City novamente, eu digo não”ele confessa antes de viajar para Wembley.

Perguntar. A sua primeira Liga dos Campeões veio com reviravoltas e a deste ano está sendo parecida.

Responder. Para mim o jogo contra o City foi muito difícil, sofri. Se me disserem para jogar contra o City novamente, eu digo não. Para mim foi muito importante, acho que nos deu um grande empurrão para chegarmos onde estamos hoje.

P. Após o jogo no Etihad, Ancelotti brincou que a tática era prender o City na área do Real Madrid.

R. (risos). Sim, sim… Todos pensaram que iam nos vencer daquele jeito, mas deu certo. No final acho que conseguimos aquele empurrão de equipa, aquele orgulho de defender aquele escudo, de lutar por aquilo que todos querem, que é a Liga dos Campeões, acho que nos fez crescer.

Baviera? Nos matou muito saber que jogamos a segunda mão aqui. Depois de tantas eliminatórias, todos pensavam que no Santiago Bernabéu seria fácil.

Valverde

P. E então o Bayern…

R. Na minha opinião, na Alemanha não foi um jogo tão difícil como se dizia. Foi algo muito acessível, poderíamos ter vencido se dependesse de nós. Nos matou muito saber que jogamos a segunda mão aqui. Depois de tantas eliminatórias, todos pensavam que no Bernabéu seria fácil. No final tivemos que sofrer muito aqui, em casa. Eu fui uma das mudanças. Graças a isso vencemos, então o Joselu tem que me agradecer muito pelo que fez (risos). Foi algo magnífico. Há dois anos tive que vivenciar isso em campo, este ano no banco e para mim foi igualmente bom.

Chema Rey

P. Você experimenta isso melhor de fora ou de dentro?

R. Do lado de fora você sofre muito porque não pode ajudar, só pode colaborar apoiando. Você vê as pessoas nervosas, seus companheiros… dentro de campo você fica focado na bola, tentando fazer gol, mas fora você sofre mais.

P Você sente no banco o que impressiona o Bernabéu?

R. Hoje com o Santiago Bernabéu fechado é muito mais impressionante. Depois daquele jogo contei à minha família que para mim foi algo incrível que um companheiro tenha marcado e corrido para abraçá-lo. Afinal, dentro de campo você fica focado em outras coisas, fica concentrado e não aproveita tanto esses momentos. Lá fora você valoriza muito mais tudo o que a equipe faz.

Uma das mudanças fui eu e graças a isso vencemos, então o Joselu tem que me agradecer muito pelo que fez

P. E se eu lhe dissesse que o Real Madrid está em Londres para o terceiro gol contra o City…?

R. Eu diria que poderia ser. Talvez alguns pensem que não, que ela ganhou lá. Lembro-me de uma entrevista após o jogo e da pergunta por que ele não valorizava tanto o gol. Me perguntaram por que não comemorei o gol. Ele tinha motivos, não foi uma derrota, mas parecia. Contra um time como o Manchester City, fazer 3 a 3, depois de perder… Ir jogar lá foi como uma derrota, por isso não valorizei tanto. Mas hoje estou muito feliz por esse objetivo.

Gol de Valverde (3-3) no Real Madrid 3-3 Manchester CityCAMPEÕES MOVISTAR PLUS

P. Este ano há menos metas, mas talvez mais importante, pelo menos essa.

R. Sim, para mim acima de tudo ver minha família feliz. Vi eles comemorarem o gol e para mim foi muito emocionante. Tenho orgulho de todas as pessoas que brigaram comigo desde pequeno, aproveitar aquele momento foi algo único.

Não há jogador no mundo como Toni. Temos outra maneira de jogar

P. Toni Kroos saiu e agora é hora de assumir o que o alemão faz em campo. O que Ancelotti lhe contou?

R. Não falei quase nada com Ancelotti. Hoje estou tendo que jogar em outra posição, longe de onde o Toni joga. Nunca poderemos substituí-lo e digo-vos, é a pessoa que mais admiro e adoraria poder fazer pelo menos dez por cento do que ele fez no Real Madrid, mas é muito difícil. No final temos outro tipo de jogo, não existe jogador no mundo como o Toni. Temos outra forma de jogar, vamos tentar continuar marcando época neste clube, mas será difícil. Com as nossas qualidades adaptamo-nos ao que o treinador nos pede, que é dar o nosso melhor e deixar essa marca no Real Madrid.

Valverde e a sua conversa ‘privada’ com Kroos: “Agradeço muito que ele não tenha feito isso publicamente…”

P. Uma loira, outra morena, uma alemã, outra uruguaia, você se vê usando pelo menos o número oito?

Para mim os números não significam muito, o que significa muito é que vem dele, ele usou e tem aquelas palavras comigo para me dizer que quer que eu use aquela camisa

R. Eu adoraria. Eu tive uma conversa com ele, conversamos sobre isso. Foi o que eu contei para ele, contei também para minha família e conto para todo mundo. Oito, para mim, é apenas mais um número. Para mim os números não significam muito, o que significa muito é que vem dele, ele vestiu e tem comigo essas palavras para me transmitir que quer que eu use aquela camisa. Para mim foi algo único, algo emocionante. Eu realmente aprecio que ele não tenha feito isso publicamente, que todos tenham visto. Que saibam que ele é uma ótima pessoa, que fez isso tranquilamente, comigo, sozinho e que para mim não é apenas ser uma boa pessoa, mas uma ótima pessoa.

Marcelo, Sergio, Karim, hoje Nacho, Carvajal, Toni, Luka… são muitos os jogadores que passaram dos mil e um neste clube, não só coisas ruins, mas também boas. Sempre tentei aprender com todos. Para mim nunca haverá um capitão como Sergio Ramos

P. Você nunca escondeu que um dos seus sonhos é ser capitão do Real Madrid. Me dizem que na verdade você já é, mesmo sem usar a pulseira, que você é um líder silencioso, respeitando os mais velhos, certo?

R. Sim, obviamente. Aprendi quando cheguei ao Real Madrid, realizei o meu sonho de infância e com o passar dos anos aprendi com os conselhos que outras pessoas me deram, outros jogadores de nível superior, que passaram muitos anos aqui como Marcelo, Sergio, Karin Hoje, Nacho, Carvajal, Toni, Luka… são muitos os jogadores que tiveram mil e um sucessos neste clube, não só coisas ruins, mas também boas. Sempre tentei aprender com todos. Para mim nunca haverá um capitão como Sergio Ramos. Cada um tem seu jeito de ser e são capitães de primeira classe. Não vou ser igual a eles, mas adoraria ser uma imagem para os jovens que vêm para este clube e mostrar-lhes o quanto este clube é valioso.

P. Assistindo e assistindo histórias do Valverde hoje em dia, vi aquele vídeo de uma criança batendo na parede com bolas, suas partidas em Montevidéu em campo de terra, o que resta desse Valverde?

R. Acima de tudo o que minha mãe e meu pai fizeram quando eu não tinha nada, quando tudo era muito difícil para nós, inclusive ir aos treinos. Mesmo não tendo muito, meus pais sempre me deram o melhor, o que podiam. Serei sempre grato a eles, eles fazem parte de tudo isso, de ser o que sou hoje. Ao longo do caminho juntaram-se a mim pessoas como a minha mulher e os meus filhos, que me fizeram amadurecer e mudar como jogador… claro que tenho que lhes estar grato.

P. Você conseguiu mudar a opinião do seu filho Benício sobre qual jogador ele mais gosta? Você ainda está com Vinícius?

R. Não, não é impossível fazê-lo mudar. Impossível. Contanto que ele me ame um pouco, está tudo bem para mim.

Chema Rey

P. Você o pune sem sobremesa?

R. Ele não come nada (risos). É fofo. Graças a ele estou gostando mais do futebol porque me faz fugir dos momentos ruins, de um jogo ruim, dos insultos… chegar em casa e ver o sorriso dele. Mesmo que ele nem saiba quem eu sou, ele me faz feliz.

P. O que lhe resta fazer no Real Madrid?

R. Buffff. Aproveite cada dia. Aprendi a gostar de vir a Valdebebas, aproveitar esses momentos, vestir essa camisa para treinar, esses campos, tudo que esse clube tem e continuar conquistando títulos e continuar deixando a marca que outros já deixaram. Amanhã espero que possam se despedir de mim de uma forma boa, como fizeram com Toni.

P. O que você espera da final?

R. Ganhe acima de tudo. Aproveite o jogo, mas você faz mais quando ganha. Nos momentos anteriores, há muito nervosismo. Tudo é diferente de qualquer outro jogo. É o jogo mais importante da sua vida e poder jogá-lo com muitos familiares nas arquibancadas e tê-los assistindo a um jogo do Fede Valverde, o melhor.



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