Foi uma Menorca calorosa, sim, e tudo mais a que tenho direito

  • Nem festeira nem exibicionista, a ilha Balear é um convite ao abrandamento. E não apenas nas praias. Entre as águas cristalinas, aproveitamos para descobrir. “Quando olho quero ver”, como Chillida

Para quem tem que estar trabalhando hoje em dia, talvez, como o seu escriba, mesmo sentado em uma mesa, olhando telas, digitando em teclados, isso se torna difícil. O mesmo se caro leitor, caro leitor, tiver que comemorar a chegada do verão fazendo cerveja para os outros beberem, trabalhando numa fábrica, arrumando camas, acordando de madrugada para preparar o forno, batendo nas teclas de alguma caixa registradora ou calibrando pneus , etc., etc. – basta incluir suas tarefas aqui e pronto. Não é que uma pessoa não consiga nem gostar do seu trabalho, por mais reclamações que tenha sobre perda de horas, dores nas costas ou salários. Neste caso específico, o difícil é encher os olhos de praias paradisíacas, ilhas que eles têm a coragem de chamar de “sonho”, águas azul-turquesa e quentes, areias perfeitas (ou menos perfeitas, o que, sejamos realistas, o que era um ano de tempestades violentas), hotéis de luxo Zen, restaurantes apetitosos… FINALMENTE, você pode ver as cenas…

Mas, numa tentativa altruísta de deixar esse ciúme de lado, admitamos que também existe um prazer (sensorial e literário, digamos) em ler sonhando. E depois, queridos amigos, confesso que é um verdadeiro prazer, sem ter saído da minha maldita secretária, ter passeado com Sandra Nobre por Menorca, aquela pérola balear tão desejada por tantos. Começa com aquele cartão-postal da capa, de que pessoa não é de ferro, e vai muito além do clichê das praias, para nos dar gastronomia, artesanato, artes e gente, prosa e poesia – até porque Sandra estava fora de casa um passeio com o escultor Eduardo Chillida à frente, em livros e obras: “Os olhos para olhar/ os olhos para rir/ os olhos para chorar/ servirão também para ver?”. Vale a pena e a pele para ver esta Menorca e ouça o seu silêncio. Existem paradigmas nesses cantos.

Enquanto a ilha espanhola vai e vem, podemos também entregar-nos ao luxo mais próximo e acessível de provar o Alentejo (todo ele) à mesa do Páteo Real em Alter do Chão. Mara Gonçalves foi descobrir quantas artes, produtores locais e sabedoria podem ser usados ​​para criar um “restaurante tradicional alentejano do futuro”. E inclui maravilhas, tesouros como o açafrão do mestre Xico ou os enchidos da Dona Octávia, dois verdadeiros guardiões dos sabores de Portugal. Leia e fique com água na boca.

E o mesmo acontecerá com quem quiser conhecer a história, o restaurante e a gastronomia de Diogo Novais Pereira, vencedor do concurso Chef do Ano. O título é bom: Do restaurante dos pais a Chef do Ano, ele sabe o que faz na cozinha de Porinhos (GPS: Arãos, Fafe, Braga). Há uma frase do Diogo (33 anos) neste texto, escrita por Luís Octávio Costa, que me deixou meditando a semana toda. Deixo ao seu julgamento, apenas contextualizando que, como tantos, ele cresceu na empresa dos pais, depois saiu e estudou, aprendeu, Michelins, coisas modernas e antigas. E então, um dia: “Cheguei a casa no Dia da Mãe para dar uma mão e a minha mãe, pegando num tabuleiro, não aguentou mais, os braços, os ombros, as pernas doíam… Cheguei a Lisboa e disse que ia embora. não podem continuar se matando lá sem ajuda.'”

Das especialidades diárias, caro cliente, permita-me propor também o limonada por Miguel Esteves Cardoso​, para Amando Verona do nosso leitor José P. Costa ou de um Mercedes que seja uma fera. Trata-se de adicionar alguns Croquetes – bolinhos salgados no rio Febras e algumas gotas de 2.000 anos do novo vinho mais antigo do mundo e fazemos uma festa.

Para uma boa meditação, entre sonhos e realidades, e destacando que estou em período de abstinência e só bebo água e textos sobre vinho, deixo-vos com uma última citação. É um provérbio como Pedro Garcias, mestre da verve crônica: A verdade está nas uvas; todo o resto está no vinho.

Tenha um bom fim de semana e boas fugas!

Fuente