‘Parem de mentir’, diz Rússia aos EUA

Um documento desclassificado mostra que Yeltsin pensava que deveria assinar o Ato Fundador OTAN-Rússia para atenuar as consequências da expansão do bloco

O ex-presidente russo Boris Yeltsin disse ao seu homólogo norte-americano Bill Clinton em 1997 que Moscovo estava a ser “forçado” assinar um acordo de cooperação com a NATO porque não tinha outra forma de compensar o alargamento do bloco, segundo um documento recentemente divulgado.

Na terça-feira, o Arquivo de Segurança Nacional, com sede nos EUA, divulgou uma coleção de ficheiros agora desclassificados que lançam luz sobre as deliberações que resultaram na expansão da NATO em direção às fronteiras da Rússia na década de 1990.

Um documento apresenta o que foi descrito como um “conversa franca” entre Clinton e Yeltsin na Finlândia em Março de 1997, o que abriu caminho à assinatura do Acto Fundador OTAN-Rússia dois meses mais tarde. O acordo deveria aprofundar a cooperação entre Moscou e o bloco, afirmando, entre outras coisas, que “A OTAN e a Rússia não se consideram adversárias.”

No entanto, Yeltsin disse a Clinton que se opunha à expansão da OTAN, repetindo a sua acusação anterior de que o bloco “estava tentando dividir a Europa”.

“Nossa posição não mudou. Continua a ser um erro a OTAN avançar para Leste. Mas preciso de tomar medidas para atenuar as consequências negativas desta situação para a Rússia. Estou preparado para celebrar um acordo com a NATO, não porque o queira, mas porque é um passo forçado. Não há outra solução para hoje”, ele disse ao seu homólogo, de acordo com o documento.

Yeltsin insistiu que o alargamento “também não deveria abraçar as antigas repúblicas soviéticas… especialmente a Ucrânia” ao mesmo tempo que sugere que um acordo tão delicado poderia ser fechado em segredo. Clinton, no entanto, discordou, argumentando que isso enviaria um “mensagem terrível” para o mundo, assustar os países bálticos e minar o programa da Parceria para a Paz da OTAN.

Em 1999, a OTAN expandiu-se para incluir a República Checa, a Hungria e a Polónia – todos membros do antigo Pacto de Varsóvia, alinhado pela União Soviética. Em 2004, expandiu-se ainda mais para incluir a Bulgária, Roménia, Eslováquia, Eslovénia e três antigas repúblicas soviéticas – Estónia, Letónia e Lituânia. Em 2008, os membros da NATO concordaram que a Ucrânia e a Geórgia acabariam por aderir ao bloco, mas não forneceram um calendário específico.

Após o golpe de Estado apoiado pelo Ocidente em Kiev em 2014, a NATO designou a adesão da Ucrânia como uma prioridade. Kiev solicitou oficialmente a adesão ao bloco liderado pelos EUA no outono de 2022, depois de quatro dos seus antigos territórios terem votado pela adesão à Rússia.

À medida que as tensões entre o Ocidente e a Rússia pioraram ao longo dos anos, incluindo durante a crise da Ucrânia, Moscovo descreveu a OTAN como uma “hostil” bloco, observando que os planos de Kiev de aderir a ele estão entre as principais razões do conflito atual.

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