Influenciador do Instagram, que traficava seguidores, os mantinha como escravos e era preso

Mulheres que afirmam que também foram traficadas e escravizadas por Kat Torres se manifestaram

A ex-modelo brasileira e influenciadora de bem-estar radicada nos EUA Kat Torres foi condenada a oito anos de prisão por tráfico de pessoas e escravidão de mulheres, depois que uma investigação do FBI descobriu que duas mulheres que viviam com ela desapareceram em 2022.

Mulheres que afirmam ter sido também traficadas e escravizadas por Torres falaram sobre a experiência angustiante que viveram com ela. Em conversa com a BBC, as mulheres alegaram que se sentiram atraídas por sua história da pobreza à riqueza, quando ela passou de morar em um bairro brasileiro empobrecido para festejar com estrelas de Hollywood.

Torres, que já havia rumores de estar namorando o ator Leonardo DiCaprio, também afirmou que ela poderia fazer previsões usando seus poderes espirituais e era um rosto comum em programas de TV brasileiros de renome.

“Ela estava na capa de revistas. Ela foi vista com pessoas famosas como Leonardo DiCaprio. Tudo o que vi parecia credível”, disse a mulher chamada Ana à BBC.

Poderes espirituais

A ex-colega de apartamento de Torres, que morava com ela em Nova York, disse à BBC que seus amigos de Hollywood a apresentaram a uma droga alucinógena chamada ayahuasca. Foi através do uso dessa droga que ela se reinventou como coach de vida e hipnotizadora.

Logo, Torres desenvolveu um site de bem-estar e um serviço de assinatura que prometia aos clientes “Amor, dinheiro e autoestima que você sempre sonhou”.

Ela também criou vídeos de autoajuda oferecendo conselhos sobre relacionamentos, bem-estar e sucesso nos negócios, incluindo hipnose, meditação e programas de exercícios. Ela ofereceu consultas individuais por vídeo por US$ 150 que resolveriam “qualquer um dos seus problemas”.

Seguidores escravizados

Em 2019, Ana mudou-se para Nova York para trabalhar como assistente residente de Torres. Escapando de uma infância violenta e de um relacionamento abusivo, ela se mudou sozinha do Brasil para os EUA e estava estudando nutrição na universidade em Boston.

O trabalho exigia que ela cuidasse dos animais de Torres, cozinhasse para ela, lavasse roupa e limpasse por US$ 2.000 por mês. Mas quando ela chegou, a situação na casa de Torres a chocou. A casa estava imunda e ela foi obrigada a dormir num sofá coberto de urina de gato. Esperava-se que ela estivesse constantemente disponível para Torres, podendo dormir apenas algumas horas. Ela fugia para a academia do prédio para dormir algumas horas. Ela nunca foi paga.

Após a fuga de Ana, Torres contratou mais duas mulheres – Desirre e Letícia – que se mudaram com ela para uma casa no Texas. O que começou como um retiro de treinamento e cura para a vida rapidamente se transformou em um pesadelo para as mulheres.

Prostituição, bruxaria

Em poucas semanas, Desirre foi pressionada a trabalhar em um clube de strip local enquanto Torres fazia “bruxaria” nela. As duas mulheres foram proibidas de falar uma com a outra e tiveram que pedir permissão para sair dos quartos, até mesmo para usar o banheiro.

Logo, Torres convenceu Desiree a se prostituir. Se ela não cumprisse as cotas de rendimento estabelecidas por Torres, ela não teria permissão para voltar para casa naquela noite. “Acabei dormindo na rua várias vezes porque não conseguia chegar lá”, disse Desirre à BBC.

Em setembro, amigos e familiares das duas mulheres lançaram campanhas nas redes sociais para encontrá-las. Para escapar da atenção da mídia, Torres e as mulheres viajaram do Texas para o Maine. A partir daí, os dois foram obrigados a postar vídeos no Instagram negando terem sido mantidos em cativeiro e exigindo que as pessoas parassem de procurá-los.

Mais de 20 mulheres apresentaram histórias de terem sido enganadas ou exploradas por Torres. Eles ainda estão em terapia psiquiátrica para se recuperarem do que dizem ter vivido.

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