Livros que atravessam o Atlântico 6

Clube Encontro • Agosto

Assim nasceu uma língua: sobre as origens do português.
Fernando Venâncio.
Tinta-da-China Brasil • 304 pp • R$ 99,90
Editora Guerra & Paz • 312 pp • 16,50€

O linguista e escritor português Fernando Venâncio é o convidado do próximo Encontro de Leiturauma parceria editorial entre o jornal português PÚBLICO e a revista brasileira Quatro Cinco Um em torno de livros publicados em ambos os lados do Atlântico.

No encontro de agosto, o acadêmico falará sobre Assim nasceu uma língua: sobre as origens do português.
Publicado originalmente em 2019 em Portugal pela Guerra e Paz, o livro foi lançado no Brasil em 2024 pela Tinta-da-China Brasil, editora da Associação Quatro Cinco Um, com prefácio do linguista Marcos Bagno, da Universidade de Brasília.

A moderação será feita por mim e pelo jornalista e escritor brasileiro Sérgio Rodrigues.

Venâncio trabalhou durante décadas na Universidade de Amsterdã e é considerado um dos inovadores nos estudos de história da língua. Em Foi assim que nasceu uma linguagemo autor apresenta seu livro como um trabalho publicitário, mas é um prato cheio para o público em geral — principalmente para os curiosos.

“Destas análises surge aquela que é, talvez, a sua contribuição mais original: o desvelamento do impressionante volume de palavras que o português incorporou do espanhol entre meados do século XV e início do século XVIII, período em que os estudiosos portugueses adotaram o espanhol como uma linguagem modelo”, escreveu Carlos Alberto Faraco em sua resenha do livro em Quatro Cinco Um.

No PÚBLICO, Nuno Pacheco entrevistou Fernando Venâncio sobre este trabalho. Leia a entrevista aqui.

O Encontro de Leitura é aberto a todos que queiram participar. O ID é 821 5605 8496 e a senha de acesso é 719623. Participe da reunião Zoom usando este link.

Viagem: 13 de agosto, terça-feira
Hora: às 18h no Brasil e às 22h em Portugal

Evento online gratuito, via Zoom

(No topo desta newsletter, a linguista Fernanda Venâncio. Divulgação)

Análise

A vida dos portugueses

“A história das línguas é um tema fascinante. Muito desse fascínio vem do redesenho gradual e contínuo que a estrutura gramatical e lexical das línguas sofre, incansavelmente. Mas também vem de como as transformações socioculturais afetam a estrutura das línguas e trata-se, finalmente, dos muitos mistérios que a linguística histórica não conseguiu resolver, apesar dos seus enormes esforços teórico-empíricos – que já se estendem por mais de dois séculos – para desvendar os processos de mudança linguística.

Pelo que se sabe e apesar dos enigmas que permanecem, tem sido possível desvendar, com maior ou menor detalhe, a história de muitas línguas. A portuguesa conheceu a primeira narrativa da sua história no início do século XVII, Origem da língua portuguesa, escrito pelo jurisconsulto Duarte Nunes de Leão e publicado em Lisboa em 1606. Contudo, foi apenas a partir de meados do século XIX que se tornou comum a produção de gramáticas históricas e de histórias do português, em simultâneo com as de outras línguas europeias.

Este movimento resultou do surgimento do historicismo linguístico e da sua consolidação no paradigma da linguística histórico-comparativa, que foi introduzido nos estudos portugueses pelo filólogo Adolfo Coelho, em 1868, com o seu livro A língua portuguesa: fonologia, etimologia, morfologia e sintaxe. O filólogo brasileiro Manuel Pacheco da Silva Jr. foi o autor da primeira obra em português intitulada Gramática Histórica: Gramática histórica da língua portuguesapublicado no Rio de Janeiro, em 1878. Posteriormente, foram lançadas diversas obras de cunho histórico, entre elas a monumental História da língua portuguesado brasileiro Serafim da Silva Neto, de 1957.

A partir do final da década de 80, novos documentos, novos dados e novas interpretações criaram condições para fundamentar esta história noutras bases, desencadeando um importante movimento de reescrita da história do português, liderado por destacados linguistas, especialmente os portugueses Clarinda Maia, Ivo Castro e Esperança Cardeira e a brasileira Rosa Virgínia Mattos e Silva. Foi possível superar formulações tradicionais, de cunho patriótico-nacionalista, que, carentes de respaldo científico suficiente, turvaram a compreensão das verdadeiras origens da língua.”

Leia na íntegra a recensão de Carlos Alberto Faraco em Quatro Cinco Um.

Arquivo

Acompanhe as Reuniões de Leitura

PÚBLICO lançado um portal com todas as reuniões do clube, que até janeiro teve o Folha de S.Paulo como parceiro brasileiro. As conversas são gravadas, editadas e publicadas como podcast.

Análise

O evangelho segundo Valter Hugo Mãe

“Na primeira frase do Deus na escuridão Diz-se que ‘Pouquinho nasceu sem origens’. Uma formulação que pode levantar dúvidas no público brasileiro: seria uma expressão portuguesa, como outras por vezes desconhecidas no país? Ou, ainda, uma caracterização geográfica, através de um termo típico da Ilha da Madeira, local onde se passa a história e de onde o autor extraiu certas formas de articulação da linguagem? Pois bem, nenhuma das alternativas: é realmente uma construção original, tão inusitada para os conterrâneos de Mãe quanto para leitores de outros países. Quem conhece a obra do autor deve saber: uma de suas características é colocar leitores e leitoras nesta estranha posição em relação à linguagem.

O que nos leva a outro traço comum nos romances de Mãe, também presente em Deus na escuridão: a construção baseada na contemplação diária de uma lista de personagens, e não no constante movimento das engrenagens da trama. Semelhante a obras como O filho de mil homens (Porto Editora e Biblioteca Azul), o que temos aqui é um núcleo de tipos pertencentes a classes menos privilegiadas, num espaço algo mítico, ora em comunhão das suas dificuldades e sentimentos, ora em termos socioeconómicos (mas também existenciais) ou ideológicos. . Uma coisa louvável no trabalho de Mãe é que essas relações escapam ao didatismo antropológico, o que é fácil de explicar.”
Leia na íntegra a crítica de Rafael Gallo (Prémio José Saramago) em Quatro Cinco Um.

No PÚBLICO foi o crítico literário Mário Santos quem escreveu sobre esta obra. ler o crítico.

(Acima, Valter Hugo Mãe. Nelson d’Aires/Divulgação)

Onde queremos morar

Arranjando flores às cegas

“Volto a Portugal depois de quase um ano em Nova Iorque. No Alentejo ou já não me conheço ou o mar é o mesmo e nunca o vi. vou pela primeira vez com os pés bem assentes na terra. Passei a minha infância aqui, já não me lembro se fui feliz ou não. Mas sei que agora sou criança, vejo, sinto, eu. ouça, estremeço pela primeira vez. Fui morrer na outra margem e acordei na praia. Leia a coluna na íntegra por Djaimilia Pereira de Almeida em Quatro Cinco Um.

Ato de entrega

“Uma voz ao redor, neste café de uma cidade costeira, um café vazio sem outra vista além do terreno baldio de cascalho número 2, onde cães e turistas mijam, quer saber se é necessário pagar na entrega. não há serviço de esplanada. Dou comigo a pensar no acto de entrega e a pensar nesse acto. E passarei um dia, provavelmente uma semana, a reflectir sobre a metáfora que a minha cabeça procura nesta frase como um anzol sobre um peixe em jejum. Ajuda lembrar que era uma manhã de maio na cidade tranquila, tudo era velho onde éramos novos, a própria esperança conheceu um pouco a derrota, antes do almoço, e que o Tomás, o obscuro, pudesse nadar na praia além da falésia. . eueia na íntegra Coluna de Humberto Brito em Quatro Cinco Um.

(Doze girassóis em uma jarrade Van Gogh, óleo sobre tela, 1888/Reprodução)

Em Montras e Vitrines — Livros que cruzaram o Atlântico

Criança em Roma: Ficção. Chico Buarque.
Autor de Essas pessoas (2019), Anos de chumbo e outras histórias (2021) e vencedor do Prêmio Camões em 2019 por toda a sua obra, o músico e escritor carioca mistura imaginação com memórias de infância e também do período em que morou na Via San Marino, em Roma. Andando de bicicleta ziguezagueando pela cidade italiana, Buarque nos guia pelas aventuras de sua infância e pelos primeiros vislumbres de romance e desejo na adolescência, aos quais alia relações com pais, irmãos, amigos e primeiros amores. No Brasil este romance será publicado em agosto e chegará a Portugal no dia 23 de setembro.
Companhia das Letras • 168 pp • R$ 79,90
Companhia das Letras • 176 pp • 16,45€

Sozinho. Eliane Alves Cruz.
O autor premiado Água Barrela (2016) conta a história de uma empregada doméstica e sua filha, que moram no luxuoso apartamento dos patrões, em uma rotina diária de humilhações. A vida continua aos trancos e barrancos até que a empregada se torna testemunha de um crime cometido pela filha do patrão, que tenta convencê-la a mentir para a polícia. O livro do escritor brasileiro chegou este mês às livrarias portuguesas.
Companhia das Letras • 168 pp • R$ 69,90
Até/Parte • 160 pp • 15,90€

Compaixão. Lídia Jorge.
Vencedor do Prémio Romance e Romance 2022 da Associação Portuguesa de Escritores e do Prêmio Médicis de Melhor Livro Estrangeiro, a escritora portuguesa cria um romance contado pela própria mãe, Maria Alberta, falecida em 2020 em consequência da Covid-19. Numa espécie de diário áudio, feito com a ajuda de um gravador enquanto vivia num lar de idosos no Algarve, a idosa reúne histórias e pensamentos que revelam a crise migratória em Portugal, como a precariedade dos empregos oferecidos aos estrangeiros .
Contemporâneo Autêntico • 384 pp • R$ 79,80
Dom Quixote • 464 pp • € 21,90

O gesto que fazemos para proteger nossa cabeça. Ana Margarida de Carvalho.
O escritor e jornalista lisboeta, vencedor do prémio Manuel de Boaventura pela Você não pode viver nos olhos de um gato (Dublinense, 2018), narra o encontro entre dois homens numa estrada do Alentejo, perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Finalista do Grande Prémio APE/IPLB de Romance e Romance em Portugal, o romance instiga a reflexão sobre destinos comuns que, embora com encargos diferentes, põem à prova, cada um à sua maneira, o instinto natural de proteger a cabeça.
Dublinense • 320 pp • R$ 84,90
Relógio de Água • 264 pp • 18€

Ípsilon chega às bancas nesta sexta-feira

Na capa desta semana: Miguel Esteves Cardoso entrevistado por Bárbara Reis.

E também uma entrevista com David Baddiel (por Pedro Rios) e o João Miguel Fernandes Jorge (de Hugo Pinto Santos).

E ainda assim o Jules Boykoff (por Marco Vaza).

Vejo voce na proxima semana.

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