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Um grupo de trabalhadores brasileiros tem aproveitado a experiência adquirida na área industrial para dar nova vida às fachadas de edifícios públicos e privados em Portugal. A técnica, chamada de montanhismo na construção civil, vem sendo desenvolvida há cinco anos e pode ser vista, com certo espanto pela população, em diversas cidades do país. Os homens penduram-se em cordas, vários metros acima do solo, para cumprirem as suas funções.

“Essa técnica está no sangue. Ser alpinista de construção é a minha vida”, diz Jonatas Silva, 37 anos, pernambucano, que mora em Portugal há cinco anos. Fundou a UP Alpinismo assim que chegou. A empresa atua em território português com reformas e pinturas de projetos, além de limpeza de janelas e calhas e impermeabilização de paredes. “Esse trabalho, realizado com segurança, nos dá prazer. Só tenho a agradecer”, acrescenta.

Jonatas, com 13 anos de experiência na área, incluindo o tempo em que trabalhou no Brasil, lidera o grupo que tem como integrantes Hélio Magalhães, 56, alagoano, Fábio Alessandro, 26, paulista, e o “estrangeiro” do da equipe, o português Francisco Moisés, 23 anos. Aos poucos, vão substituindo os caros andaimes por cordas e habilidades especiais, cujo índice de acidentes é próximo de zero. “Somos pioneiros nesta técnica em Portugal”, afirma. Outras empresas, porém, estão seguindo o mesmo caminho. “Mas os portugueses confiam nos brasileiros”, assegura.

O pernambucano reconhece que o trabalho de montanhismo em construções exige muita dedicação e cuidado. “Sou sempre o primeiro a dar o exemplo subindo pelas paredes e contribuindo para o serviço”, destaca. Isso garante tranquilidade e confiança para que todos os envolvidos possam dar o seu melhor”, completa. UP Alpinismo, instalada em Rio de Mouroem Sintra, realiza cerca de 30 obras por ano na região metropolitana de Lisboa.

A dimensão das obras é decisiva na definição dos percursos dos escaladores. “Existem trabalhos mais complexos que outros”, diz Jonatas. Os valores cobrados por cada projeto dependem da extensão dos serviços. O pernambucano afirma que os preços variam de 1 mil euros (R$ 6 mil), no caso de pequenos reparos, a 30 mil euros (R$ 180 mil), se as obras envolverem edificações.

Jonatas Silva fundou a UP Alpinismo: “Esta técnica está-me no sangue. Ser escalador de construção é a minha vida”
Carlos Henrique Vasconcelos

A redução de custos com a técnica dos escaladores, menores prazos de entrega e contenção de riscos são algumas das características que tornam o serviço atrativo para proprietários, condomínios e investidores do setor imobiliário. “Comparado aos serviços realizados com andaimes, trabalhar com cordas reduz o período de manutenção, o que gera economia e segurança”, destaca o pernambucano.

Competição acirrada

Grupos com mais recursos criaram estruturas muito maiores que os precursores do sistema, como a AJD Alpinismo Industrial, sediada no bairro dos Olivais, em Lisboa. A empresa, cujo administrador é Andrei Donici, natural da Moldávia, tem um portfólio de obras realizadas na região metropolitana de Lisboa. Segundo o portal da empresa, os destaques da expansão deste tipo de atividade são a confiabilidade e disponibilidade de equipes e equipamentos.

O escritório desenvolve suas ações na Margem Sul, em Caparica Charneca e em áreas próximas. O processo começa com a lavagem das paredes, janelas, calhas e das tubulações que acompanham os imóveis. Segue-se a reparação de fissuras, o alinhamento de superfícies, a aplicação de tinta primária e mais dois processos de pintura final. Segundo os trabalhadores, em média, a conclusão das obras de um prédio de três andares demora cerca de 20 dias, mas há casos em que a obra demora seis meses.

Como há trabalho para todos, Jonatas informa que as próximas obras da UP Alpinismo estão previstas para o centro de Lisboa e região de Malveirasempre com calendário fechado para todos os meses do ano, com apenas alguns feriados e datas para descanso da equipe. “Na maioria das vezes não temos problemas para realizar as obras”, afirma. Os escaladores contam com o apoio de engenheiros e arquitetos, contratados para solicitar autorizações às Câmaras Municipais e demais órgãos públicos para a execução dos serviços.

O pernambucano garante que, embora o grupo de escaladores seja maioritariamente brasileiro, a maior parte da clientela é portuguesa, pois a qualidade do trabalho facilita os processos, o que justifica a preferência da comunidade. “Contamos com o apoio das autoridades, que concedem licenças para fechamento de ruas e, como temos cursos de primeiros socorros, o trabalho é certificado pelos bombeiros. “Temos cursos para acidentes de trabalho e, se o caso for mais grave, acionamos os bombeiros para continuarem prestando atendimento, que é reconhecido pelas corporações”, acrescenta.

“Felizmente nunca tivemos acidente”, reforça o brasileiro. Ela destaca que as cordas utilizadas pelos escaladores suportam até 2,3 mil quilos e há outros equipamentos de proteção individual, como capacetes, luvas e calçados. A única dificuldade enfrentada até agora prende-se com a autorização de serviços em edifícios do centro histórico de Lisboa. Há uma espera de dois anos pela autorização. A alegação é que a legislação não permite e o processo é lento e burocrático. “Mas estamos preparados para atuar em qualquer área”, afirma.

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