20 anos se passaram desde o ouro da Argentina nos Jogos de Atenas

Se há um marco indelével na história do basquete masculino argentino e até mundial, foi Triunfo da Argentina nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004a única equipe capaz de alcançar essa glória fora dos Estados Unidos e das extintas União Soviética e Iugoslávia.

A magnitude do feito foi tal que, desde o acesso dos profissionais da NBA ao torneio olímpico e a separação das antigas repúblicas soviética e balcânica, apenas a ‘Albiceleste’ assumiu o trono do ‘Dream Team’.

O que pouco se sabe é que em 28 de agosto de 2004, dia Argentina conquistou o ouro em final atípica contra a Itália (84-69)depois de ambos eliminados em semifinais para os Estados Unidos (89-81) e Lituânia (100-91), a expedição ‘perdeu’ o seu melhor jogador, Emanuel ‘Manu’ Ginóbili.

Argentina comemora após vencer a final olímpica contra os EUA em Atenas.EFE

Essa é a história “engraçada” que o então treinador relembra em entrevista à Agência EFE, por ocasião do vigésimo aniversário dessa conquista, Rubén Magnano, que explica brincando: “No dia da final toda a equipa sai do estádio e esquecemo-nos de Emanuel Ginobili. Só nos esquecemos de Ginobili.”

Depois do ouro e tudo mais, desconsideramos totalmente a presença dele e o ônibus partiu sem Ginobili. O estado de emoção era tal… Acontece que existe uma rotina e as rotinas são geralmente respeitadas. Geralmente eu chegava de ônibus, a gente marcava um horário, nesse caso ‘reexplicado’, é claro. Não que faltou vontade de esperar, mas sinto e eu sempre perguntava ao adereço, ‘Turco’ (Roberto Vartanián, falecido em 2020): ‘Estamos todos aqui?’. Ele dá uma olhada: ‘Sim, estamos todos aí’”, detalha o de Villa María (Córdoba).

Além da anedota, O treinador de 69 anos fala com respeito e admiração da grande figura do basquete argentinovencedor de quatro anéis da NBA com o San Antonio Spurs e, desde 2022, membro do Hall da Fama.

No jogo de truques (cartas), a de espadas é a carta de maior valor. Ele atuou um pouco como aquele ás de espadas do time, mas o que chama a atenção é que atuou sem exigir, sem pedir. Falo de humildade inteligente, de uma pessoa extremamente humilde e muito inteligente para se posicionar sem deixar de ser o ás de espadas”, resume Magnano.

No entanto, resiste em usar a palavra “líder”, porque, na sua opinião, “a própria equipa” assumiu esse papel.

“Muito amigos”

Com um ambiente semelhante ao da seleção espanhola, que se autoproclama ‘La Familia’, aquela seleção argentina batizada de ‘Geração de Ouro’ Ficou marcado pela união dos seus integrantes, explica quem foi seu treinador entre 2000 e 2004.

Quero continuar com o que os jogadores falam hoje, mesmo quase 20 anos depois da conquista olímpica, que tem a ver e está associada à amizade. Eles se proclamam muito amigos, com tudo o que isso significa. E isso tem sido uma mais-valia que ajuda muito ao que vocês chamam de processo”, argumenta o ex-técnico do Brasil e do Uruguai, além de ex-treinador de clubes da Argentina, Espanha e Itália.

Na sua opinião, as conquistas alcançadas têm a ver, além de trabalho, com “uma comunhão de vontades” e “um sentimento de pertencimento extremamente grande”.

Graças a isso, o temido duelo da semifinal contra ‘Dream Team’ não foi tanto, porque os jogadores “tinham crescido muito” e “enfrentavam os melhores praticamente todos os dias”, por isso entraram em quadra “com o propósito muito claro de ir para a vitória, não de medo da derrota”.

Aquele time campeão FIBA Américas 2001 e vice-campeão da Copa do Mundo de Indianápolis 2002 -onde a Argentina já havia derrotado os Estados Unidos na primeira fase- mostrou que é preciso “descartar a palavra impossível”, pois, com trabalho, respeito e talento, “as possibilidades de ir à vitória estão aí”, segundo Magnano.

Vinte e nove pontos de Ginobili e 13 de Andrés ‘Chapu’ Nocioni Num jogo coletivo brilhante deram a vitória à Argentina e uma vaga na final sem o lesionado Fabricio Oberto. O resto foi história.

Para encerrar, Magnano, o homem considerado ““um tomador do momento, do lugar e das circunstâncias”preserva o hasteamento final das bandeiras como um “cartão postal gravado”: “Para mim aquela foto é muito emblemática, muito forte e o que mais me lembro: a bandeira argentina acima da da Itália e dos Estados Unidos… já era um tema para cada um de nós.”



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