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Comprar um carro em Portugal pode ser um processo desafiador para os brasileiros recém-chegados ao país. Existem diversas diferenças em relação ao Brasil que, se não forem conhecidas, podem causar muitos transtornos no caminho. Isto se aplica à legislação local, aos documentos necessários, impostos a pagarseguro obrigatório, relatórios de acidentes e muito mais.
Segundo especialistas ouvidos pelo PÚBLICO Brasil, a lista de documentos necessários para possuir automóvel inclui: cartão de residência válido emitido pelo governo português; número de identificação fiscal (TIN); carteira de motorista válida do Brasil ou de Portugal; comprovante de residência (luz, água, conta de telefone ou extrato bancário recente); comprovativo de pagamento do Imposto do Selo (IS); calculado sobre o valor do veículo; documento do veículo; título de registro de imóvel (TRP) ou Registro de Veículo; certificado de Inspeção Obrigatória do Veículo (CIV), comprovando que o veículo está em boas condições para circular.
“Não há saída. Se você não tiver toda essa documentação em mãos, ninguém pode comprar carro”, afirma o advogado e pesquisador Bruno Aguiar. Segundo ele, exigências tendem a ser maiores no caso de estrangeiros tanto pelas concessionárias de veículos quanto pelos bancos que concedem financiamentos. “Meu conselho para quem compra um carro é estar preparado para enfrentar muita burocracia. Estar bem documentado já é uma boa forma de quebrar certas barreiras”, destaca.
Outra dica importante é pesquisar muito bem o mercado de automóveis e comparar preços antes de tomar qualquer decisão. Na opinião de especialistas, vale a pena negociar o valor do carro com o vendedor para ver se consegue um desconto. E, claro, leia atentamente o contrato de compra e venda antes de assiná-lo e faça uma vistoria veicular para ter certeza de que tudo atende aos padrões exigidos por lei.
Elisamar Fernandes, 52 anos, cearense, fez uma viagem até comprar o carro que sonhou. Entre escolher o veículo e colocar as mãos nele foram mais de dois meses. “Toda vez que eu ia na concessionária me pediam um documento. Tive que apresentar uma declaração de Imposto sobre o Rendimento (IRS), três comprovantes de rendapagar seguros caríssimos e muito mais”, relata. “Não acreditei quando o vendedor me disse que estava tudo aprovado. Mas foi um tormento, foi. E o fato de ser brasileira pesou muito, disso não tenho dúvidas”, afirma.
O comerciante Valdson Freitas, 62 anos, preferiu economizar na hora de comprar um carro poucos dias depois de desembarcar em Portugal. “Optei por um veículo usado, que era mais barato, e paguei à vista. Isso reduziu bastante a burocracia. Mas mesmo assim foram muitas demandas até que tudo fosse aprovado”, descreve. “Depois que tive toda a documentação em Portugal, troquei de carro e tudo correu mais tranquilo. Dessa vez consegui até financiamento bancário”, enfatiza.
Passo a passo
Quem tiver interesse em adquirir um carro deve conhecer detalhes básicos sobre o veículo, a começar pelo DUA. Este é o Documento de carro únicoque reúne todas as informações sobre o carro, como nome do proprietário, características técnicas, histórico de inspeções e histórico de acidentes. Para obter o DUA é preciso ir ao Instituto dos Registros e Notariado (IRN), munido dos documentos necessários, preencher um formulário e pagar a taxa de emissão, cerca de 30 euros (R$ 180).
Durante a prestação do DUA, o comprador do automóvel deve estar atento aos prazos de pagamento dos impostos: Imposto do Selo (IS), pago no ato da compra e calculado sobre o valor do veículo; Imposto sobre Veículos (ISV)pago anualmente (entre abril e maio), calculado sobre o valor do veículo e as emissões de CO2; Imposto Único de Circulação (IUC), pago anualmente (em Outubro ou Novembro), calculado sobre a potência do veículo e as emissões de CO2. Em um carro avaliado em 10 mil euros (R$ 60 mil), por exemplo, o custo tributário chega a 650 euros (R$ 3,9 mil).
Outro ponto importante: em Portugal nenhum veículo sai da concessionária sem o seguro obrigatório. O Seguro de Responsabilidade Civil Automóvel (RCA) É uma exigência para proteger os motoristas, além de cobrir possíveis danos a terceiros em caso de acidente. No Brasil, o seguro automóvel é opcional e, quando adquirido, tem como principal objetivo garantir indenização contra roubo.
“Saber todos esses detalhes é muito importante. Ajuda muito a desembaraçar o processo de compra de um veículo”, afirma Bruno Aguiar. Este aviso também é válido em caso de sinistro, que deverá ser comunicado à seguradora no prazo de oito dias. A notificação é feita através do formulário de notificação de acidente. Ao preenchê-lo, você deve informar data, horário e local do acidente, veículos envolvidos, feridos (se houver) e danos causados.
Nesse roteiro a ser seguido, pelo menos houve um alívio: não é mais obrigatório afixar o selo do seguro no para-brisa do carro. As autoridades podem verificar a validade do seguro através da placa do veículo. Mas é recomendado levar uma cópia dentro do veículo.