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Uma das maiores dificuldades para quem tem mais de 45 anos e perde o emprego é encontrar um novo local para trabalhar. Para ajudar as pessoas desta faixa etária a reentrar no mercado, Associação Mobilizar com Valores (MCV) está organizando um evento para reunir quem quer contratar e quem busca uma nova oportunidade.

É a primeira vez que o MCV organiza este tipo de iniciativas em Portugal. A associação, criada no ano passado, é uma instituição sem fins lucrativos e tem como objetivo atuando juntamente com três grupos que considera vulneráveis ​​na economia portuguesa: imigrantes e refugiadosjovens e pessoas com mais de 45 anos de idade, que não têm condições de se deslocar para atividades produtivo.

“Normalmente, em Portugal, quando se fala em feira de emprego, pensa-se em estudantes do ensino secundário ou universitário. Mas conseguir um emprego depois dos 45 anos pode ser muito difícil. Algumas pessoas que nos procuram têm 60 anos ou mais e não conseguem vaga no mercado”, afirma Cibelli de Almeida, presidente do McV, de Pernambuco.

Cibelli Almeida, presidente da Associação Mobilização com Valores, decidiu organizar a feira de empregos ao perceber a vulnerabilidade dos imigrantes e requerentes de asilo
Arquivo Pessoal

O modelo utilizado para a feira de emprego de Braga será o mesmo adotado no Brasil. “Fui presidente do Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Nesta entidade organizei o primeiro evento de oferta de emprego, modelo que foi replicado em todos os estados brasileiros”, diz Cibelli.

Ela relata que na última vez que promoveu a feira no Brasil, compareceram pelo menos 12 mil pessoas, cheias de esperança de ter uma fonte de renda estável. “Foi na Praça do Carmo, no Recife. De manhã, quando chegamos lá, já havia 500 pessoas na fila”, lembra.

Com o apoio da Câmara Municipal de Braga, a feira terá sete espaços. O Espaço Qualificação terá palestras a cada 30 minutos sobre como aprimorar habilidades, como se apresentar em uma entrevista de emprego. No Espaço Oportunidades, empresas receberão currículos — detalhe: quatro grandes empresas já estão confirmadas. No Espaço Legal, por sua vez, advogados voluntários darão orientação jurídica sobre direitos e deveres.

Segundo a organizadora do evento, no Espaço Carreira os interessados ​​poderão discutir a mudança de área de trabalho. No Espaço de Orientação Profissional, haverá psicólogos voluntários para ajudar nas questões emocionais. Haverá também o Espaço de Empreendedorismocom assessoria para quem quer abrir o próprio negócio, e o Espaço Serviço Público, com dicas para quem quer participar de concursos de serviço público.

A iniciativa de formar o McV foi da Cibelli. “Estou em Portugal há 13 anos. vim fazer doutorado na Universidade do Minho em 2011 e acabei por ficar”, conta. Atualmente trabalha na área de recursos humanos “Sou consultora na BiBraga, que apoia a imigração profissional e estudantil. No ano passado, comecei a ser abordada por imigrantes e refugiados que não tinham orientação sobre como conseguir emprego”, conta. Foi daí que surgiu a ideia da associação.

Mesmo com vários brasileiros na associação, o responsável pelo evento reforça que o evento não é voltado apenas para quem trocou o Brasil por Portugal. “O objetivo, mesmo, é ajudar quem precisa, brasileiros, angolanos, portugueses”, enfatiza.

Mudança de área

Um exemplo de brasileira com mais de 45 anos que emigrou e não consegue trabalhar na área que deseja é Sandra Santos, 56 anos, mineira que, antes de se mudar para Portugal, morou em Porto Velho, Rondônia. Há um ano em terras portuguesas, ela teve que mudar de profissão para sobreviver.

“Fui apresentadora de televisão em programas de sucesso, e também trabalhei em rádio, além de ser chefe de cerimônias da prefeitura de Porto Velho”, conta Sandra. Ela conta que perdeu o emprego quando houve uma mudança na administração municipal, o que promoveu mudanças entre os funcionários de segundo nível.

Lá ela tomou uma decisão. “Sempre pensei em morar na Europa. Quando fiquei sem este emprego, um amigo que vive em Portugal disse-me: ou eu mudou naquele momento ou seria difícil”, lembra.

Sandra Santos, que foi apresentadora de televisão no Brasil e atualmente trabalha como cuidadora de idosos
Arquivo Pessoal

Incapaz de trabalhar em sua área, ela optou por outra. “Hoje cuido de idosos. Primeiro foi numa residência, agora cuido de uma senhora em Oeiras (a 12 quilómetros de Lisboa)”, conta.

O sonho dela é migrar para outra área do mercado. “Gostaria de trabalhar com turismo, receber os brasileiros, mostrar os lugares de Portugal. Gosto de conhecer pessoas. Mas não há oportunidades na área”, afirma.

Pedro Dale, 47, do Rio, tem situação mais complicada. Há dois anos e quatro meses em Portugal, encontra-se sem emprego permanente. “Saí do Brasil em 2013. Vim para Portugal depois de nove anos em Dubai. Tive um ótimo trabalho, me especializei em marketing digital. Trabalhei em grandes empresas. Foi através de um deles que me mudei para Dubai”, conta.

A opção de morar em Portugal teve como objetivo educar os filhos. “Eu estava em Dubai há nove anos e meus filhos tinham 12 e 14 anos. Eles estavam em uma bolha. O objetivo era que eles estivessem expostos à vida real, como, por exemplo, pegar ônibus, trem, ir à praia”, explica.

Dale até tinha um emprego em Portugal: “Quando cheguei, consegui um emprego remoto numa empresa de software no estrangeiro. Mas em outubro de 2023 houve um despedimento global de milhares de trabalhadores e eu fui despedido”, salienta.

Com um bom currículo, ele acreditava que não seria muito tempo sem trabalho. “Mandei dezenas de currículos, inclusive alguns cuja descrição de cargo se ajustava como uma luva ao meu perfil, mas não recebi. Muitas vezes nem obtive resposta”, lamenta.

Atualmente, Dale desistiu de sair em busca de uma nova oportunidade. Realiza alguns projetos de consultoria para Brasil, Emirados Árabes Unidos e Paquistão, países com os quais já trabalhou. Mas ele quer algo mais eficaz.

Como tentar trabalhar

Para os especialistas em recursos humanos, existem alguns passos fundamentais para conseguir um emprego depois dos 45 anos. O primeiro é definir a área em que pretende trabalhar, que pode não ser a mesma dos empregos anteriores. “O que sabem fazer ou fazem há anos pouco vale no mercado”, afirma Jorge Fonseca, especialista em aconselhamento de mudança de carreira.

Outro problema que Fonseca encontra é a forma como as pessoas se apresentam quando se deparam com uma oportunidade. “Algumas pessoas têm um currículo pouco atraente”, diz ele. Isso impede o outro lado que está contratando.

Denise Swerts, que, no Brasil, trabalhou numa estação de televisão e está atualmente na área de recursos humanos da Câmara Municipal do Porto, sublinha a necessidade de preparar um bom currículo. “O CV ​​visa apenas criar pontes para a entrevista. A pessoa tem que tornar sua história profissional atrativa o suficiente para ser chamada para a entrevista”, explica.

Ela diz que o currículo tem que chamar a atenção de quem quer contratar. “O importante no currículo é usar a criatividade”, aconselha. Ela sugere usar programas como Canva, Powerpoint ou os templates que o Word oferece para ter algo que diferencie o candidato à vaga.

Uma das recomendações que Denise faz é que, quem está em busca de emprego, ter um currículo mestre e adapte-se de acordo com as necessidades do cargo ao qual se candidata. “Geralmente, pessoas com mais de 45 anos têm uma experiência muito ampla. Não é necessário falar sobre todas as experiências”, afirma. Ela sugere deixar os detalhes para a entrevista.

Outra dica que ela dá para quem procura emprego é conseguir mostrar que está falando a verdade. “Não adianta só dizer que você tem experiência. É necessário descrever esta experiência com algum detalhe. Se lhe perguntarem se sabe trabalhar em equipe, não basta responder sim ou não, mas ter exemplos concretos para apresentar ao entrevistador”, explica.

Denise considera que um passo importante é a preparação para a entrevista. “É preciso ter conhecimento da empresa. Faça uma pesquisa no site da empresa, descubra o que ela faz, qual a sua visão para o futuro e relate como você pode contribuir com a empresa. Se tiver dúvidas, leve para a entrevista”, explica.

Outros conselhos incluem chegar cedo para a entrevista de emprego e, em todas as respostas, tentar ser equilibrado, não falar muito nem pouco e ser objetivo.

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