Texto alternativo

Os artigos elaborados pela equipe do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa utilizada no Brasil.

Acesso gratuito: baixe o aplicativo PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Para Alessandra Leão, 45 anos, Portugal sempre foi um lugar especial. Tanto é que, para iniciar a sua mais nova digressão pela Europa, decidiu que a primeira paragem seria na capital portuguesa. É a terceira vez que a artista se apresenta no país —anteriormente, ela havia se apresentado em 2008, e no ano passado. “Tinha planeado ir para França, mas gostei tanto de Portugal que avancei para fazer um espectáculo em Lisboa”, diz.

No show desta terça-feira (1/10), no BOTA, como o nome Soloa cantora apresentará cirandas, cocos, toré, jurema, umbanda, candomblé e Chegança, além de composições próprias. “O nome do show é Solomas não estarei sozinho. Incluirei vozes de outros artistas, como se estivéssemos em diálogo”, afirma.

Entre as vozes que terá gravadas estão as de Odete de Pilar, Ana do Coco, Mestre Galo Preto e Bill Roque. Outros músicos subirão ao palco, como Areia, no baixo, Nelly e Banda Alyon. “É uma banda com músicos da Argentina, Brasil, Itália e Grécia. Nos conhecemos em São Paulo, ano passado. Eles estavam fazendo um show e me convidaram para participar. Como agora estão em Portugal, convidei-os para bater um papo comigo”, conta.

Alessandra possui uma musicalidade marcada pela força da percussão. Ela toca o ilu, uma espécie de tambor maracatu de Baque Loose. “Existem dois tipos de maracatu. O maracatu do baque virado, que é mais recifense, de tradição negra, e o maracatu do baque solto, que é da Zona da Mata Norte, de origem cabocla, que mistura preto e índio”, explica.

“Enquanto no baque invertido o costume é usar o atabaque, no baque solto a batida da percussão é marcada pelo ilu”, reforça Alessandra, que toca ilu e dá aulas do instrumento —no domingo (29/9). ) ministrou uma oficina de percussão na qual ensinou os presentes a tocar.

Indicado ao Grammy

A cantora e compositora ficou mais conhecida em 2019, quando foi indicada ao Grammy Latino pelo álbum Macumbas e Catimbósna categoria de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa. O álbum também foi eleito um dos 25 melhores do primeiro semestre deste ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte. “Quando eu estava gravando o Macumbas e CatimbósEu brinquei que ganharia um Grammy. E quando veio a indicação, fiquei surpreso, porque não é comum eles escolherem um álbum com repertório em homenagem à macumba, jurema e umbanda”, lembra.

A tradição dos cultos afro-brasileiros marca a música de Alessandra Leão
José da Holanda

A música da Zona da Mata está ligada à sua própria decisão de se tornar artista. “Quando eu era adolescente, frequentava muito a Zona da Mata Norte com gente do movimento Mangue Beat. O Mangue Beat estabeleceu um diálogo cultural com tudo o que vinha da Zona da Mata Norte. Essas viagens mudaram minha vida. Foi aí que comecei a querer jogar”, acrescenta.

A música de Alessandra está relacionada aos cultos afro-brasileiros. O Candomblé e a Umbanda possuem elementos africanos misturados com outros da religião católica. A jurema sagrada é uma tradição religiosa do Nordeste do Brasil, ligada à pajelança indígena, formas populares de catolicismo e religiões afro-brasileiras.

Compositora, cantora e percussionista há 25 anos, a artista iniciou sua carreira solo em 2006, com o álbum Brinquedo de tambor. Possui cinco discos gravados e já tocou, cantou e compôs com nomes como Chico César, Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Juliano Holanda.

Intolerância

Num momento em que a intolerância religiosa aumenta no Brasil, Alessandra, que se define como adepta do Candomblé, relembra os tempos em que foi vítima de intolerância religiosa. “Houve casas de espetáculo que disseram que não tocavam macumba. Houve um edital que tinha a condição de não tocar músicas de cunho religioso, quando as músicas do Candomblé e da Umbanda fazem parte da tradição cultural que forma o Brasil. Teve um show onde as pessoas levantaram e foram embora quando comecei a cantar para Exu”, lembra.

Mesmo assim, ela afirma que sua situação não é das piores. “Eu sou branco. Tenho consciência de que o que passo não é nada comparado ao que os negros ou indígenas enfrentam no dia a dia”, observa.

Fuente