Kate Walsh e Naomi Lorrain em

Talvez sejam os dois lances de escada quase verticais. Talvez seja a mãe que nenhum de nós gostaria de chamar de nossa. Na primeira exibição de “The Hills of California” em Londres este ano, pensei que Jez Butterworth tivesse escrito a peça britânica “August: Osage County”, de Tracy Letts ganhadora do Prêmio Pulitzer de 2008.

Tendo visto “The Hills of California” na Broadway, onde estreou domingo no Broadhurst Theatre, percebo que Butterworth escreveu algo muito mais significativo e comovente. Ao cruzar o Oceano Atlântico, ele também cortou um detalhe da trama do terceiro ato – e é um excelente exemplo de que menos é não apenas mais, mas muito melhor.

Três irmãs adultas (Leanne Best, Ophelia Lovibond, Helena Wilson) se reuniram na casa de sua infância em Blackpool, Inglaterra, para fazer vigília enquanto sua mãe morre de câncer no andar de cima. O quarto dela não fica só lá em cima, é muuuito lá em cima. Dois maridos e dois filhos também fizeram a viagem, e esses personagens são apenas a cereja do bolo de um elenco de 17 que criam não apenas uma família extensa, mas uma comunidade que dá vida ao mundo de três irmãs vitais, mas profundamente danificadas.

Esta crítica não será repleta de spoilers, mas provavelmente é melhor não ler o parágrafo seguinte se você tiver alguma intenção de ver “The Hills of California”. Um dos muitos grandes prazeres da peça de Butterworth é uma peça importante de elenco duplo, e só pode ser aproveitada plenamente se você não souber que ela acontecerá no terceiro ato da peça. Sim, Butterworth não só teve a coragem e a influência para escrever uma peça que requer 17 atores – ele escreveu três atos que duram duas horas e quarenta e cinco minutos. “The Hills of California” é uma refeição completa com bebidas incluídas, não um daqueles lanches reduzidos de 90 minutos para duas mãos que dominaram o mundo do teatro.

Então, agora, o grande spoiler sobre o elenco duplo: Butterworth nunca nos deixa ver a mãe morrendo em seu quarto no andar de cima, que provavelmente se parece muito com o quarto que abriga a mãe de Norman Bates em “Psicose”. Em vez disso, Butterworth nos leva 22 anos para 1955, onde a mãe, Veronica (Laura Donnelly), é uma viúva de meia-idade no processo de transformar suas quatro filhas adolescentes (Sophia Ally, Nancy Allsop, Lara McDonnell, Nicola Turner) em as próximas Irmãs Andrews.

Por uma estranha sorte, o teatro que abriga “The Hills of California” fica ao lado do Majestic Theatre, que em breve será o lar do novo revival de “Gypsy”, estrelado por Audra McDonald. Se você fosse uma jovem artista e pudesse escolher entre mães de palco, estaria certo em escolher Mama Rose em vez de Veronica em qualquer dia de trabalho de sua jovem vida. Verônica usava Rose para passar fio dental depois do café da manhã.

Gypsy Rose Lee sobrevive aos sonhos de sua mãe. As filhas de Verônica não. E não há melhor prova do poder destrutivo das fantasias desta mãe no showbiz do que a vida da quarta filha desaparecida, Joan, que – naquele impressionante elenco duplo – aparece no terceiro ato para ser interpretada por Donnelly, a quem vimos nos atos 1 e 2 interpretando a Verônica de meia-idade. As palavras “tour de force” não descrevem o desempenho perfeito de Donnelly. Ela explode silenciosamente na icônica escadaria do set, em um confronto sem palavras entre a Joan adulta e a adolescente Joan (McDonnell).

A direção de Sam Mendes entrega aquele momento deslumbrante ao fazer uso perfeito do cenário frio, assustador e monumental de Rob Howell. Além de nos proporcionar a ótima atuação de Donnelly, Mendes nos faz acreditar que os quatro atores adolescentes são verdadeiras irmãs.

Ele não tem tanto sucesso com os quatro atores adultos interpretando os mesmos irmãos. Nenhum desempenho individual pode ser criticado, mas sua direção enfatiza demais as diferenças de personalidade. O roteiro de Butterworth pede que eles sejam indivíduos distintos, mas Gloria de Best é um pouco astuta demais, Ruby de Lovibond um pouco excitada demais, Jill de Wilson um pouco virginal demais.

Outra reclamação: para uma peça que dura quase três horas, Butterworth usa dois personagens secundários no início do Ato 3 para apresentar uma exposição essencial sobre o passado de Joan. É o tipo de informação que deveria ter sido espalhada ao longo da peça pelas personagens irmãs, e não despejada no palco com tanta falta de jeito.

Butterworth fez alguns cortes criteriosos em sua peça entre o West End e a Broadway. Além da escada e da personagem mãe, “The Hills of California” e “August: Osage County” costumavam ter algo mais em comum: uma propensão para efeitos excessivamente melodramáticos. Letts lança uma bomba de novela a cada 15 minutos em sua peça. Butterworth fez o mesmo em “Hills”, quando Joan apareceu no terceiro ato com um bebê que ela espera que suas irmãs criem.

Na Broadway, o garoto foi despedido. Boa viagem.

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