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No passado domingo, 29 de setembro, Portugal assistiu a uma manifestação contra a imigração. A iniciativa, liderada pelo Chega, partido que, nos últimos anos, tem crescido com a extrema-direita na Europa, levanta a bandeira de que a imigração em Portugal não é regulamentada e que o país está a perder a sua identidade nacional devido aos “imigrantes” que aqui eles vivem.

Contrariamente a este discurso, o Banco de Portugal revela dados impressionantes sobre a mão-de-obra imigrante, ocupando um espaço extremamente relevante na construção civil, na agricultura, no turismo e nos serviços como um todo.

As universidades portuguesas também beneficiam de intercâmbio académico e de propinas pagas pelo contingente de imigrantes que vêm estudar em território português. O valor destas propinas ultrapassa em mais de 300% o custo imposto aos estudantes portugueses, permitindo receitas substanciais a estas entidades, o que acaba por favorecer toda a produção científica e a qualidade do ensino.

A Segurança Social também tem demonstrado, em números, que a contribuição do imigrante é cada vez mais importante, acrescentando, só em 2023, quase 2,7 mil milhões de euros (mil milhões de euros)um aumento de 44% em relação ao ano anterior.

A matemática não mente. E os números são confirmados por economistas, banqueiros, sociólogos e outros estudiosos da área da política e do desenvolvimento social.

Existe, de facto, um enorme problema em Portugal no que diz respeito à imigração: a falta de competência do governo na monitorização do desenvolvimento económico face à precariedade do serviço público na regularização da população imigrante. Então porque é que as pessoas continuam a dizer que a imigração é má para o país?

Esta visão é fomentada por um crescente sentimento de insegurança que se manifesta em alguns atos extremistas por toda a Europa, cuja incidência na Alemanha e em França acaba por repercutir em Portugal, que tem uma diferença: é um país de emigrantes e de imigrantes.

O povo português é um dos povos mais imigrados do mundo e, como tal, espalha a sua influência. Além disso, o movimento de regresso de lusodescendentes a Portugal, principalmente das ex-colónias, reflecte-se numa recuperação da justiça social, que não pode ser ignorada.

Os imigrantes não roubam empregos, não roubam casas ou lugares nas escolas. Os imigrantes mantêm a economia vibrante, contribuem com impostos e promovem o mercado de consumo e de serviços.

É preciso deixar de fazer política com base no que “o povo gosta de ouvir” e fazer da política um instrumento de educação, com explicação do contexto económico e social. Uma população mal informada alimentada por fake news vota sem consciência e ajuda a desestabilizar o país!

Pergunto novamente: de que lado está a verdade?

Pensem num Portugal sem autonomia alimentar, quando falta gente para semear e colher na agricultura. Pense em Portugal sem casas construídas, porque falta mão de obra. Pense nos hotéis e restaurantes fechados que vão à falência porque falta gente trabalhando no turismo. Pense na escassez de subsídios porque falta quem pague impostos, fonte de financiamento dos programas sociais. Pense numa das populações mais idosas da Europa sem cuidadores idosos.

Neste cenário completo, imagine-se em um país pobre, sem crescimento econômico e sem condições de custear projetos governamentais por falta de recursos nos cofres públicos. Talvez, neste momento, as ruas da capital se encham para pedir o retorno dos “imigrantes indesejáveis”.

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