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Para muitos italianos que vivem em Portugal, a rotina é a mesma. Quase diariamente, entram na página de agendamento das agências Diplomatas italianos renovar seu passaporte italiano e a resposta é: tente outro dia.

Mariana Beruto51 anos, que tem Nacionalidades italianas e brasileiro, está nessa luta desde setembro do ano passado. “Como o meu passaporte expirava em maio passado, antecipei-me e tentei marcar, mas não foi possível”, diz ela, que escolheu Lisboa para fazer um doutoramento em História.

Primeiro, Mariana teve dificuldade em se cadastrar no consulado que utiliza um sistema informatizado chamado AIRE, um cadastro de cidadãos italianos com todos os dados, incluindo nome, endereço, profissão, estado civil, sexo, filiação e localidade italiana em que estão localizados. conectado, o que é obrigatório.

Após o registro, ela começou a tentar, quase todos os dias, agendar uma ida ao consulado. A resposta era sempre negativa e não havia possibilidade de entrar em lista de espera para encontro. “É complicado”, diz Mariana.

Situação semelhante enfrentou a italiana Ella Sher, 45, que é agente literária. “Tentei durante três meses marcar consulta, mas não consegui”, conta. Ella, que se mudou para Lisboa por motivos familiares, acreditava que precisaria de um passaporte mais novo para uma viagem de trabalho ao México. No final, após enviar um e-mail à embaixada reclamando, recebeu a informação de que o documento dela ainda era válido para a viagem.

Sotaque carioca

A cônsul italiana em Lisboa, Simone Salvatore, reconhece a existência do problema. “Temos 30 mil cidadãos italianos residentes em Portugal, mas, até Novembro do ano passado, altura em que tomei posse, eram feitos apenas 150 passaportes por mês, o que equivale a 1.800 por ano. Como o passaporte italiano tem validade de 10 anos, seriam necessários três mil passaportes por ano”, afirma.

O diplomata destaca, no entanto, que, face à grande procura, teve de duplicar a emissão de passaportes para tentar diminuir a lista de espera. Tanto que está produzindo 300 documentos por mês — o dobro do que estimou inicialmente —, mas houve um mês em que o número chegou a 350.

Salvatore diz que pretende modificar o sistema informático de agendamentos, para que possa haver lista de espera. “Na situação atual, como o sistema recusa registos depois de preenchidos os agendamentos, nem sabemos quantas pessoas querem passaporte e não conseguem”, relata.

Uma das preocupações do diplomata é tentar atender os italianos apenas quando eles realmente precisam de passaporte. Isso porque, se todos os que estão em atraso conseguissem o documento em um espaço de tempo muito curto, daqui a 10 anos, quando terminasse a validade dos documentos, o problema voltaria.

40% brasileiros

Segundo o embaixador Claudio Miscia, o número de cidadãos italianos em Portugal cresceu nos últimos cinco anos a uma média de 10% ao ano. “A cada ano chegam mais 18% de cidadãos e cerca de 8% saem do país. Há 20 anos só viviam em Portugal 3 mil e nenhum deles nasceu no Brasil”, observa.

Agora, esse quadro mudou. Miscia fez um levantamento amostral do número de italianos nascidos no Brasil que vivem em Portugal e o resultado foi significativo: 40%.

Questionado se são os ítalo-brasileiros que têm contribuído para entupir a fila de pedidos de passaporte, o embaixador diz que não. “Não distinguimos onde nasceram os cidadãos. São todos italianos”, diz Miscia, ele próprio filho de brasileira e com um leve sotaque carioca, apesar de ter nascido na Itália.

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