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No século XXI, em que a tecnologia pode rastrear tudo, o tráfico de seres humanos continua a fazer vítimas em todo o mundo. E as mulheres brasileiras têm sido alvos preferenciais. Em Portugal, ainda no mês passado, a polícia desmantelou duas gangues que as exploravam para a prostituição.

Um dos casos envolve uma casa de prostituição que ficava localizada em Guilherme Cossoul TravessaA 200 metros da Praça Luís de Camões, no Chiado, e a 300 metros do Consulado do Brasil em Lisboa. Na madrugada do dia 3 de outubro, a Polícia de Segurança Pública entrou na área e resgatou várias mulheres brasileiras que foram forçadas à prostituição. O síndico da casa, cujo nome foi revelado pela polícia, também tem nacionalidade brasileira e está em prisão preventiva.

A outra foi revelada em Aveiro, no Norte de Portugal. Num processo no tribunal municipal, oito pessoas foram condenadas por explorar a prostituição (proxenetismo) e por ajudar a imigração ilegal – das quais seis receberam penas suspensas. O grupo, que incluía dois brasileiros, geria uma rede de quatro casas de prostituição em Águeda, Anadia, Souselas e Santa Maria da Feira.

No caso de Lisboa, os vizinhos do local de prostituição — nenhum deles aceitou identificar-se, por medo de retaliações — relatam que a casa estava aberta há mais de sete anos e sempre com a maioria de mulheres com sotaque brasileiro. No início, eles trabalharam discretamente. Depois da pandemia, houve uma mudança na gestão e mudaram a forma como as mulheres eram tratadas.

Uma das vizinhas conta que, da janela de sua casa, conseguia ver o pátio do local que se apresentava como “Casa de Massagens” na internet. Ela afirma que, em diversas ocasiões, viu mulheres sendo espancadas ali e deixadas com marcas visíveis no rosto e no corpo. Os crimes, na verdade, foram encobertos por policiais. Dois agentes da Polícia Municipal de Lisboa são detidos.

O mesmo vizinho afirma que quando a polícia foi chamada por causa do barulho, demorou muito para chegar. Esse comportamento contrastou com os momentos em que a polícia era notificada sobre um distúrbio ou briga na casa.

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Outra moradora do bairro relata que a última vez que houve confusão dentro do estabelecimento foi no dia 2 de outubro, um dia antes de a casa ser fechada pela polícia. Houve uma briga com um cidadão estrangeiro que falava inglês.

Questionada pelo PÚBLICO Brasil sobre os factos relatados pelos vizinhos da casa de prostituição, especialmente em relação ao tratamento diferenciado entre as suas denúncias e quando ocorriam brigas no local, a assessoria de imprensa da Polícia de Segurança Pública (PSP) aponta: “ Relativamente às questões colocadas, informamos que a situação se encontra sob investigação e sob segredo de justiça, pelo que, para já, não serão fornecidos mais detalhes ou detalhes”.

Em Aveiro, a investigação começou após uma denúncia de uma das vítimas de tráfico de seres humanos. A investigação da polícia durou meses, com escutas telefônicas. Segundo depoimento de um dos agentes que participou da investigação, a grande maioria das mulheres eram estrangeiras e estavam no país ilegalmente.

Números baixos

De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC)anualmente, 2,5 milhões de pessoas são vítimas de tráfico de pessoas no mundo, o que envolve 32 mil milhões de dólares (30,4 mil milhões – mil milhões – de euros ou R$ 182,4 mil milhões). O tráfico de seres humanos é apontado como o terceiro crime que mais dinheiro envolve no mundo, atrás apenas do comércio de drogas e armas.

Contudo, o número de casos em que as autoridades policiais portuguesas conseguiram remover mulheres traficadas é extremamente baixo. Dados da União Europeia mostram que, entre 2008 e 2022, houve 2.537 denúncias de tráfico de pessoas. Desse total, foram confirmados 880 casos, dos quais 16% (141) envolveram exploração sexual. Outros 73% são exploração laboral.

O número de pessoas com nacionalidade brasileira vítimas de tráfico de seres humanos confirmado pelas autoridades portuguesas também é muito baixo: chegou a 53. Em média, isto equivale a pouco mais de três por ano, o que, na opinião dos especialistas, indica que muitos progressos é necessária no combate a este crime.

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