Contra a corrente, Grécia avança com semana de seis dias

Caro leitor,

Numa altura em que muitos países europeus estão a realizar experiências para reduzir o tempo de trabalho, a A Grécia acaba de aprovar uma lei que permite estender a semana para seis dias – com o pagamento de aumento salarial aos trabalhadores.

A medida entrou em vigor no início de julho e é justificada pelo governo conservador liderado por Kyriakos Mitsotakis como forma de melhorar a utilização de trabalhadores qualificados, responder à escassez de mão-de-obra em algumas áreas e reduzir o trabalho não declarado.

O alargamento do horário de trabalho – de 40 para 48 horas semanais – só se aplicará em determinados setores, nomeadamente empresas ou serviços com carga horária extraordinária ou que prestem serviços ininterruptos (12 horas por dia e sete dias por semana). O turismo e o setor hoteleiro e de restauração estão excluídos desta medida.

Os trabalhadores poderão ter que trabalhar mais duas horas por dia ou cumprir um turno adicional de oito horas, o que terá um acréscimo de 40% do seu salário diário. A remuneração aumenta para 115% se o trabalho for realizado aos domingos.

A medida sofre forte oposição dos sindicatos e dos trabalhadores mais jovens, que a consideram um retrocesso no setor laboral e vai contra a tendência global de redução do horário de trabalho em países como a Alemanha, França, Islândia ou Reino Unido. Além disso, vai contra as experiências de semana de quatro dias que se multiplicaram em todo o mundo, incluindo em Portugal.

Em conversa com o PÚBLICO, João Cerejeira, economista e professor da Universidade do Minho, dá algumas explicações para esta decisão.

O mercado de trabalho na Grécia, para começar, enfrenta dificuldades de ajustamento e tem problemas específicos. Ao contrário de Portugal – que tem alguma facilidade em recorrer a mão-de-obra estrangeira, nomeadamente trabalhadores de países de língua portuguesa –, a Grécia não o consegue, sobretudo devido à sua localização geográfica, na fronteira com o Médio Oriente e com países que não fazem parte do União Europeia.

Por outro lado, o facto de este país ser composto por milhares de ilhas também dificulta o ajustamento e a mobilidade dos trabalhadores.

Por último, as dificuldades de ajustamento da oferta e da procura também se fazem sentir no que diz respeito às qualificações, evidenciando problemas de falta de mão de obra em algumas áreas mais qualificadas.

Perante este cenário, conclui o economista, “é mais barato fazer esse ajustamento através da flexibilidade interna”, aumentando o tempo de trabalho e recorrendo a horas extraordinárias.

Em Portugal, nota, este ajustamento é feito pela entrada de mão-de-obra estrangeira ou pelos fluxos entre os vários estados do mercado de trabalho (inatividade, emprego e desemprego).

Se a intenção do Governo grego é tornar esta medida estrutural, Cerejeira duvida que tenha sucesso, até porque vai “contrariamente às tendências internacionais”. Mas do ponto de vista situacional e para resolver problemas específicos pode funcionar, desde que seja aplicado como “hora extra”.

Uma nota adicional: em 2023, a Grécia foi o país da União Europeia onde se trabalhou mais horas por semana. De acordo com Eurostat, os trabalhadores gregos trabalhavam 39,8 horas semanais, valor que compara com as 37,7 horas trabalhadas em Portugal. A média europeia é de 36,1 horas por semana e os Países Baixos são onde se trabalha menos horas, 32,2.

Eu sabia…

A semana de 40 horas só foi generalizada a todos os sectores de actividade em Portugal em Julho de 1996? O Parlamento português aprovou o Lei 21/96 que tornou obrigatória a semana de trabalho de 40 horas, com o objectivo de aproximar o horário de trabalho português do europeu. Até então, o máximo legal era de 44 horas semanais (42 horas para funcionários de escritório). Nisso artigoo economista José Varejão analisa a decisão tomada quando António Guterres era primeiro-ministro.

Neste momento, a lei determina que o horário normal de trabalho não pode exceder oito horas por dia e quarenta horas por semana (artigo 203.º do Código do Trabalho). Mas há exceções e a duração média semanal, incluindo horas extras, pode chegar a 48 horas (medidas em 12, quatro ou seis meses, dependendo do caso). As horas extras são limitadas a 200 horas por ano e são pagas à parte.

Trabalho extra

Quando os trabalhadores promovem a empresa nas redes sociais

Ó Tempos Financeiros relata que há cada vez mais trabalhadores disponíveis para promover a empresa onde trabalham, bem como os seus produtos e serviços, nas redes sociais. Várias empresas identificaram o potencial de marketing nos perfis pessoais dos seus funcionários no X (antigo Twitter), LinkedIn ou Instagram e estão a incentivar os funcionários a partilhar notícias positivas sobre a empresa. Em algumas situações, o Postagens Eles são aprovados antecipadamente e os trabalhadores ainda são pagos.

O trabalho híbrido torna os trabalhadores mais felizes e produtivos

Um inquérito realizado no Reino Unido conclui que o trabalho híbrido (que combina trabalho presencial com teletrabalho) torna trabalhadores mais felizes, mais saudáveis ​​e mais produtivos. As respostas dadas pelas 1026 pessoas inquiridas permitem-nos concluir que o trabalho híbrido traz benefícios ao sono, aos hábitos alimentares, aos níveis de estresse e bem-estar geral. A grande maioria relatou sentir-se menos exausta (79%), menos estressada (78%) e menos ansiosa (72%). Além disso, 86% disseram que não ter que se deslocar para o trabalho todos os dias melhorou o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Livro Verde quer que empresas monitorizem a saúde mental das pessoas que trabalham remotamente

O Livro Verde sobre o Futuro da Segurança e Saúde no Trabalho foi apresentado há uma semana aos parceiros sociais e entre as 80 recomendações há uma que se destaca.

Especialistas alertam sobre os impactos do teletrabalho na saúde mental dos trabalhadores e recomendar que as empresas criem programas de apoio psicológico e promover práticas que “eliminem ou reduzam o impacto do isolamento social e da falta de fronteiras entre a vida pessoal e profissional”.

Na generalidade, o documento traça um retrato preocupante da forma como as empresas e o Estado aplicam as regras de segurança e saúde no trabalho e considera “necessária uma mudança de paradigma”.

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