Se o leitor pesquisar CP no Facebook será surpreendido por uma mensagem automática que diz que esta pesquisa “pode estar associada a conteúdos relacionados com abuso sexual de crianças”. E acrescenta: “o abuso sexual de crianças ou a visualização de imagens de natureza sexual com crianças pode resultar em pena de prisão”.

Uma segunda tentativa poderá passar por escrever “CP – Comboios de Portugal”, mas aí também aparecerá a mesma mensagem. E se o leitor clicar em suporte técnico, a coisa piora: “se você está preocupado com seus pensamentos sexuais sobre crianças e jovens ou com o comportamento de outra pessoa (como um amigo ou familiar), existem organizações que podem fornecer apoio ”.

O motivo deste bloqueio deve-se à associação do termo “CP” com “Pornografia Infantil”. Um bloqueio automático e cego, que advém da predominância da língua inglesa e da incapacidade do Meta em responder às explicações dos usuários que se sentem prejudicados.

É o caso da CP, que detectou o problema em Fevereiro deste ano e desde então tem feito diversas comunicações escritas, via bater papo, com o apoio do Facebook e realizou 14 contactos escritos com a Meta. Isto soma-se à utilização de formulários eletrónicos em que a transportadora pública tem insistido em explicar que CP significa Comboios de Portugal e que “é uma entidade empresarial pública cujo único acionista é o Estado Português”.

Os serviços jurídicos da empresa atingiram também o objectivo de que “a CP assuma a responsabilidade de contribuir para o desenvolvimento económico e a coesão social do país e dos seus cidadãos”, que transportou 173,2 milhões de passageiros em 2023 e que “é uma das empresas portuguesas mais representativas”. e a maior empresa de transporte terrestre a operar em Portugal e uma das maiores da Europa”. A sua associação à pornografia infantil devido à coincidência da sigla em inglês “está a ter diversas repercussões na imagem da empresa, gerando problemas junto de clientes, acionistas e meios de comunicação”. Por isso, a empresa estuda entrar na Justiça para tentar forçar a Meta a resolver o problema.

Segundo fonte oficial da CP, a empresa recebeu chamadas telefónicas da Meta nos dias 21 de fevereiro e 5 de março nas quais era garantido que não havia qualquer problema com a página do Facebook da CP – Comboios de Portugal. Mas o gigante Meta terá-se perdido na sua burocracia interna porque isso não teve consequências práticas e a investigação continua bloqueada. E para quem opera a partir dos Estados Unidos e tem milhões de clientes em todo o mundo, uma empresa portuguesa remota que afirma ter sido prejudicada pelo bloqueio automático cego não parece ser uma prioridade.

O PÚBLICO também contactou o serviço de imprensa do Facebook, mas não obteve resposta.

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