Cole Escola e Conrad Ricamora em

Quando uma arma é introduzida no primeiro ato, é melhor que ela dispare no segundo ou terceiro.

Hoje, poucas peças têm sequer um segundo ato e, aos 80 minutos, “Job” de Max Wolf Friedlich não apenas apresenta uma arma quando as luzes se acendem pela primeira vez no palco do Helen Hayes Theatre. Essa arma é segurada ameaçadoramente por uma jovem paciente que aponta a pistola para um psicólogo mais velho. Essa é uma maneira de começar uma sessão de terapia, bem como uma peça. “Job” estreou terça-feira na Broadway depois de uma exibição no ano passado na Off Broadway.

Não coloquei um alerta de spoiler no início desta crítica, porque, francamente, The Gun está lá desde o início do novo thriller barulhento de Friedlich. Uma jovem chamada Jane (Sydney Lemmon) teve um episódio psicótico no trabalho, e seu local de trabalho, uma empresa de tecnologia, exigiu que ela fosse examinada por um terapeuta de crise chamado Loyd (Peter Friedman). Para piorar a situação, seu colapso no trabalho foi registrado por alguns colegas de trabalho assustados – e se tornou viral.

Friedlich chama nossa atenção de diversas maneiras. Primeiro, há a arma apontada. Depois há o episódio psicótico. Sendo um bom psiquiatra, Loyd confere o vídeo, que traz muitos gritos histéricos. Fazendo o papel de terapeuta com calma estudada, Friedman expressa extremo desconforto ao assistir ao vídeo. Só podemos imaginar o que seu personagem está vendo. Ao longo da produção, o cenário do escritório de Scott Penner apresenta uma parede traseira preta que ocasionalmente se quebra em formas geométricas coloridas que pulsam com o design de iluminação de Mextly Couzin. Quando isso acontece, há também efeitos sonoros, de Cody Spencer, que oferecem de tudo, desde cavalos relinchando até uma mulher tendo orgasmo. A direção de Michael Herwitz também poderia ter nos mostrado o colapso do escritório de Jane, mas não o faz. Essa discrição está faltando em outros lugares.

Lemmon faz um longo monólogo sobre o típico dia de trabalho de Jane, que envolve a remoção de vídeos ofensivos de sites de mídia social. Na apresentação a que assisti, o público do Hayes Theatre ficou absolutamente absorto nas descrições gráficas de pessoas comendo vidro e de crianças sendo abusadas sexualmente. Houve suspiros audíveis de horror.

Menos divertidas são as longas discussões entre os dois personagens que pretendem nos mostrar como Loyd, representando a geração mais velha que nasceu antes da Internet, não consegue entender Jane, a geração mais jovem que nasceu com um laptop nas mãozinhas. Para a geração de Loyd, foi a bomba atômica que separou os Baby Boomers de todas as outras pessoas do planeta.

Quando Jane não está falando sobre sexo infantil e os estranhos hábitos alimentares das pessoas, sua mente pode divagar. Por que Loyd não pegar a mochila de Jane, onde ela guarda a arma, já que ele tem múltiplas chances de fazê-lo no decorrer da peça? Você também deve se perguntar por que qualquer empresa de tecnologia consideraria recontratar Jane depois que ela submeteu seus colegas de trabalho a um ataque de gritos em cima de uma mesa. E, acima de tudo, por que Jane pensaria que apontar uma arma para um terapeuta como forma de apresentação seria uma boa maneira de atingir seu objetivo final?

Esse objetivo é o grande momento de ah-ha da peça e, à medida que as reviravoltas na trama acontecem, ele desmorona com um momento de reflexão.

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