Cortejo fúnebre de Ismail Haniyeh em Teerã

Teerã, Irã – Milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã para se juntarem ao cortejo fúnebre do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, enquanto o Irã avalia suas opções tendo prometeu vingar seu assassinato.

Os corpos do responsável político palestiniano e do seu guarda-costas, que foi morto ao lado dele um dia antes no Irão num ataque atribuído a Israel, marcharam entre gritos na capital.

Bandeiras da Palestina, do Hezbollah do Líbano e do Hamas balançavam ao vento enquanto os organizadores distribuíam cartazes de Haniyeh. Faixas homenageavam o líder palestino e o falecido general iraniano Qassem Soleimani que foi assassinado pelos Estados Unidos em 2020, entre outros.

“Vingar o sangue do convidado está com o anfitrião, o mundo está esperando”, dizia a manchete do jornal ultraconservador Keyhan, cujo editor-chefe é nomeado pelo líder supremo.

Outros jornais diários importantes seguiram os temas de vingança, desafio e luto.

“Devemos dar uma resposta forte a Israel, qualquer coisa menos do que isso deixaria muitas pessoas infelizes”, disse Hamid Hajian, de 46 anos, que compareceu ao cortejo fúnebre, à Al Jazeera.

“Parecia que poderia haver um acordo de cessar-fogo para Gaza, mas agora isso acabou. Conversar não está ajudando, espero que o Irã dê uma resposta mais forte do que da última vez”, disse ele, referindo-se ao Ataque de 14 de abril a Israel em retaliação a um ataque aéreo ao consulado de Teerã na Síria.

Hamid Hajian, que participou do cortejo fúnebre, segura uma imagem de Ismail Haniyeh, junto com outras figuras palestinas, iranianas e iraquianas assassinadas em Teerã, 1º de agosto de 2024 (Maziar Motamedi/Al Jazeera)

As principais autoridades do Irão prometeram retaliação “dura” pelo assassinato do seu “convidado”.

Haniyeh foi assassinado horas depois Posse do presidente iraniano Masoud Pezeshkian cerimônia.

Uma bandeira vermelha foi hasteada acima da mesquita Jamkaran, na cidade sagrada xiita de Qom, ao sul de Teerã, para refletir a promessa de sangue. A Torre Milad em Teerã, um edifício icônico da capital, ficou iluminada em vermelho durante a noite.

Mohammad Bagheri, chefe do Estado-Maior das forças armadas iranianas, sugeriu na quinta-feira que a resposta poderia vir como parte de um esforço coordenado com o chamado “eixo de resistência”, uma rede regional de grupos armados que Teerã apoia.

Haniyeh ‘acertou diretamente’ com míssil

Khalil al-Hayya, vice-chefe do Hamas na Faixa de Gaza, disse a repórteres em uma entrevista coletiva em Teerã na noite de quarta-feira que “um míssil entrou na sala” de Haniyeh e matou ele e seu guarda-costas em um ataque que atingiu “diretamente” o andar do prédio onde ele estava hospedado.

Uma imagem divulgada na noite de quarta-feira pelo Sabereen News, um meio de comunicação afiliado ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), afirmava mostrar o local do assassinato. Ele mostrava um prédio de vários andares parcialmente coberto por uma lona preta que parecia ter sofrido danos em dois andares. A Al Jazeera não conseguiu verificar a imagem de forma independente.

A pousada ficava na área do Complexo do Palácio de Saadabad, no norte de Teerã, onde estão hospedados dignitários estrangeiros e onde Presidentes iranianos recebem chefes de estado em visitas oficiais.

As autoridades iranianas não confirmaram os detalhes do assassinato. Até agora apenas relataram que um “projéctil aéreo” guiado tinha como alvo a residência de Haniyeh.

Um analista entrevistado pela mídia estatal iraniana disse que Haniyeh provavelmente foi rastreado porque estava usando o mesmo cartão SIM que usava fora do Irã.

Bandeira de Ismail Haniyeh em Teerã
Faixas comemorativas do ‘mártir de al-Quds’ Ismail Haniyeh decoravam as ruas de Teerã, 1º de agosto de 2024 (Maziar Motamedi/Al Jazeera)

‘As coisas estão acontecendo tão rápido’

À medida que o espectro da guerra total continua a rastejar pela regiãoalguns no Irão também estão preocupados com a expansão do conflito.

“Espero que a situação não se agrave ainda mais e acredito que ainda não estamos no ponto de uma guerra direta, mas muito disso também poderá depender da resposta do Irão”, disse uma mulher de 24 anos em Teerão que pediu para não ser identificado.

“Se o ataque do Irão matar israelitas, então é perigoso, porque os israelitas são sedentos de sangue”, disse ela à Al Jazeera.

Israel não fez qualquer comentário sobre o assassinato, mas após a incursão de 7 de outubro no sul de Israel, liderada pelo grupo e durante a qual 1.139 pessoas foram mortas, as autoridades israelenses prometeram matar Haniyeh e outros líderes do Hamas como parte de um objetivo declarado. para esmagar o grupo.

Os Estados Unidos, que afirmaram não ter conhecimento do ataque a Haniyeh, teriam instado o Irão, através de intermediários, a não atacar Israel, algo que o Irão rejeitou enfaticamente.

Entretanto, os mercados em Teerão reagiram inicialmente com preocupação.

O mercado de ações sofreu uma queda na quarta-feira, com o índice de referência da bolsa de Teerã terminando 2% abaixo do dia anterior, enquanto o Irã se aproximava do fim de semana.

A moeda nacional, o rial, também caiu cerca de 3%, ficando acima da marca de 600 mil dólares por cada dólar americano.

Mas depois de anos de resistência à turbulência desde as sanções dos EUA até aos receios de guerra, não se espera que os mercados sejam muito mais abalados. Porém, tudo isso poderá mudar se um conflito total se instalar.

Ali, um analista de dados de 31 anos da capital, não espera tal cenário.

“As coisas estão acontecendo tão rápido que só neste ano passamos por coisas que alguns talvez não vivenciassem na vida. Mas penso que o Irão e Israel provavelmente atingirão alguns alvos militares e evitarão uma guerra mais ampla.”



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