Operação ‘Ira de Deus’: como Israel vingou o massacre de Munique em 1972

A “Operação Ira de Deus” teve como alvo mais de uma dúzia de suspeitos em toda a Europa e no Médio Oriente.

Nova Delhi:

Durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1972 em Munique, Alemanha, 11 atletas israelenses foram mortos por membros da organização terrorista palestina Setembro Negro. Em resposta, a primeira-ministra israelita, Golda Meir, ordenou secretamente à Mossad, a agência de inteligência de elite de Israel, que localizasse e eliminasse os responsáveis ​​pelo massacre.

Ao longo dos sete anos seguintes, uma campanha secreta conhecida como “Operação Ira de Deus” visou e assassinou mais de uma dúzia de suspeitos em toda a Europa e no Médio Oriente. Esta operação clandestina, envolvendo uma equipa de ataque especialmente treinada, conhecida como ‘kidon’ (baioneta em hebraico), tem sido objecto de numerosos livros e documentários e é o tema central do filme “Munique”, de Steven Spielberg.

O Massacre de Munique

Em 5 de setembro de 1972, oito membros do Setembro Negro infiltraram-se na Vila Olímpica de Munique. Armados com AK-47, eles fizeram 11 atletas e treinadores israelenses como reféns, matando dois no ataque inicial. Os terroristas exigiram a libertação de 234 prisioneiros das prisões israelenses. O impasse durou horas, durante as quais as autoridades alemãs tentaram negociações. Os terroristas deslocaram-se então para um campo de aviação, onde foram informados de que dois helicópteros militares Bell UH-1 os levariam ao Cairo. Uma tentativa fracassada de resgate pela polícia alemã resultou na morte de todos os reféns restantes, de um policial alemão e de cinco dos terroristas.

Operação Ira de Deus

No rescaldo do massacre de Munique, a primeira-ministra Golda Meir, juntamente com o chefe da Mossad, Zvi Zamir, e o conselheiro antiterrorista Aharon Yariv, elaboraram um plano para eliminar a liderança do Setembro Negro e de outros grupos terroristas relacionados. Esta missão clandestina envolveu a realização de assassinatos em solo estrangeiro, que trouxeram enormes implicações políticas e éticas. A liderança israelita acreditava que era necessária uma acção decisiva para prevenir futuros ataques e fazer justiça às vítimas de Munique.

Planejando a Operação

Uma unidade especial do Mossad, conhecida como ‘kidon’, foi encarregada de executar os assassinatos. Esta unidade era composta por assassinos altamente treinados, qualificados em diversas formas de combate e operações secretas.
A lista de alvos incluía figuras-chave que se acredita serem responsáveis ​​pelo planeamento e execução do ataque de Munique, bem como outros membros de alto escalão do Setembro Negro e da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). O objetivo era “esmagar a cabeça da serpente”, eliminando a sua liderança.

Os Assassinatos

Ao longo dos anos seguintes, os agentes da Mossad levaram a cabo uma série de assassinatos de alto perfil em toda a Europa e no Médio Oriente. Algumas das operações mais notáveis ​​incluem:

1. Pobre Zwaiter

O primeiro alvo foi Wael Zwaiter, um poeta e tradutor palestino que vive em Roma. O Mossad acreditava que ele era o chefe do Setembro Negro na Itália e estava envolvido no ataque de Munique. Em 16 de outubro de 1972, dois agentes do Mossad emboscaram Zwaiter no saguão de seu prédio e atiraram nele 11 vezes. No entanto, mais tarde descobriu-se que a inteligência sobre Zwaiter não era corroborada e a sua ligação ao massacre de Munique era questionável.

2. Mahmoud Hamsari

Mahmoud Hamshari, o representante da OLP em França, foi outro alvo importante. Agentes da Mossad seguiram-no até ao seu apartamento em Paris e, fazendo-se passar por jornalistas, conseguiram colocar uma bomba no seu telefone. Em 8 de dezembro de 1972, detonaram a bomba, matando Hamshari.

3. Hussein Al Bashir

Hussein Al Bashir, um agente da OLP baseado em Chipre, foi o próximo alvo. Em 24 de janeiro de 1973, agentes do Mossad plantaram uma bomba debaixo de sua cama em um hotel em Nicósia. A explosão matou Bashir instantaneamente.

4. A Operação Beirute

Uma das operações mais ousadas ocorreu em Beirute, em 10 de abril de 1973. Agentes do Mossad, juntamente com comandos israelenses da unidade de elite Sayeret Matkal, infiltraram-se em Beirute disfarçados de mulheres. A operação teve como alvo três figuras-chave: Mohammed Youssef al-Najjar, Kamal Adwan e Kamal Nasser. O esquadrão de ataque, incluindo Ehud Barak, que mais tarde se tornou primeiro-ministro de Israel, conseguiu chegar às casas dos seus alvos e eliminá-los.

5. Ali Hassan Salameh

Ali Hassan Salameh, conhecido como o “Príncipe Vermelho”, era um dos alvos mais evasivos do Mossad. Salameh era o chefe de operações do Setembro Negro e um colaborador próximo do ex-chefe da OLP, Yasser Arafat. Depois de uma tentativa fracassada na Noruega, onde matou por engano um garçom marroquino inocente chamado Ahmed Bouchikhi, o Mossad intensificou seus esforços para localizar Salameh. A descoberta ocorreu em 1979, quando um agente secreto, que tinha amizade com Salameh e a sua esposa, forneceu informações. Em 22 de janeiro de 1979, Salameh foi morto por um carro-bomba em Beirute.

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