Bienal de Veneza: as pontuações são acertadas no mundo da arte. Adeus do Clean Feed?

No Pavilhão da Holanda, Emery Muhamba apresenta um colecionador de arte montado num touro furioso. A escultura simboliza todas as peças sagradas “saqueadas” e hoje “presas em museus”. No mesmo pavilhão, o colectivo congolês de agricultores-artistas CATPC vai contra as expectativas: em vez de expor uma escultura importante numa montra em Veneza, opta por colocá-la em Lusanga (República Democrática do Congo) e exibi-la em transmissão ao vivo no evento italiano, numa operação de “geminação” entre os dois espaços.

O Pavilhão dos Países Baixos foi ocupado por esse grupo congolês. A do Brasil foi entregue a três artistas indígenas. Estes são dois dos projetos “mais instigantes” da Bienal de Veneza, que decorre até 24 de novembro.

Com a descolonização das instituições e a restituição de bens culturais no centro dos debates artísticos (e não só), Mariana Duarte explica como esta acerto de contas no mundo da arte é visível em vários pavilhões de Veneza.

Há outras narrativas nesta bienal, que têm como mote Estrangeiros em todos os lugares. Luísa Soares de Oliveira encontrou-o numa prisão (o surpreendente pavilhão da Santa Sé), numa abadia (transformada pela belga Berlinde De Bruyckere) e num palácio (feito EstufaPavilhão Português) três modos distintos estar em um dos maiores eventos de arte do mundo.

Pode ser o último lote de Alimentação limpauma editora portuguesa que é uma referência no jazz mundial. Gonçalo Almeida, Luís Vicente e Pedro Melo Alves acrescentam gravações preciosas às suas discografias. Gonçalo Frota falou com eles e Pedro Costa, da Clean Feed.

Um cineasta basco e o seu património: cinema, livros e Portugal. Sobretudo noturno “É um belo filme”, escreve Vasco Câmara, que conversou com Víctor Iriarte.

Jorge Roque Já conta com um conjunto generoso de livros, de pequenas edições. Como escritor, “tem as qualidades e a atitude do excedente: alguém que não se enquadra nas classificações que lhe garantem uma posição, superior ou inferior, no campo literário”, escreve António Guerreiro, que com ele conversou.

Vivemos “ainda hoje num país feudal”, diz o autor do País do Rato. “Falta justiça social e económica. A riqueza é capturada por uma elite que se perpetua. E não podemos sair daqui. E esta característica atravessa todos os regimes: monarquia, Estado Novo, democracia, etc.”

Ou sociólogo Vânia Baldi pinta um retrato nada encorajador do mundo ditado pela tecnologia e desempenho. Em Otimizado e incompatível e na conversa com Ípsilon ele pede outra Internet: sem ela outro mundo não é possível.

No livro Cidadãos Modelo, Debi Cornualha retrata o “nacionalismo militarizado” dos EUA e revela as ações que moldam a identidade e a cultura dos Estados Unidos, uma “terra violenta onde as pessoas já não partilham uma verdade comum”. Já agora, Pedro Guerreiro, jornalista do PÚBLICO nos EUA, escreve sobre como Kamala Harris ele fez da música uma ferramenta para se reinventar e alcançar os eleitores.

Também neste Épsilon:

— Livros: o murmúrio do mundo segundo Antonio Tabucchi;

– Resenhas de filmes A Torre Sem Sombra e Alienígena: Rômulo; para o novo álbum Esmagando abóboras; e romance Morro da Pena Ventosapor Rui Couceiro.

… e não só. Boa leitura!


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