Várias manifestações de milhares, centenas ou dezenas de venezuelanos em várias cidades do mundo contestaram este sábado as recentes eleições no país, que classificam como fraude, numa altura em que o Supremo Tribunal continua os trabalhos de peritagem sobre as atas eleitorais. Roma, Funchal, Barcelona, Bogotá, mas também Londres e até Sidney, na Austrália, foram hoje palco de manifestações de venezuelanos que denunciam o que consideram ser uma fraude nas eleições presidenciais de 28 de julho, das quais resultou oficialmente a reeleição de Nicolás Maduro, resultado que a oposição contesta, reivindicando a vitória.

 

Em Caracas, os manifestantes começaram a chegar ao ponto de chamada com bastante antecedência em relação à hora marcada, com bandeiras, faixas e cópias dos registos de votação, conforme solicitado pela líder da oposição, María Corina Machado, através das redes sociais desde terça-feira.

Milhares de pessoas saíram também às ruas nas principais cidades do país, atendendo ao pedido de Machado e González Urrutia, que instaram os venezuelanos a saírem às ruas acompanhados das famílias, com a bandeira nacional e a ata de votação, que asseguram endossar a vitória de Urrutia nas eleições presidenciais. As cópias das atas tornaram-se um símbolo da maior coligação da oposição, que afirma ter reunido “83,5%” destes documentos.

A líder da oposição, Maria Corina Machado, vestida com a sua tradicional blusa branca e empoleirada na plataforma de um camião, foi saudada por milhares de manifestantes, relatou a agência France-Presse. “Liberdade” e “Edmundo para todo el mundo” gritava-se na multidão à chegada, pelo candidato da oposição, que não é visto publicamente desde 30 de julho.

Entretanto, o partido de Nicolás Maduro convocou também uma marcha por todo o país para este sábado, para celebrar o que considera ser a “vitória da revolução bolivariana” nas eleições presidenciaisapesar de vários governos estrangeiros e grupos de observadores que participaram nas eleições colocarem em causa os resultados anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Segundo o canal estatal VTV, uma caravana motorizada, que partiu do leste de Caracas, seguiu em direção ao Palácio Miraflores, sede da Presidência, no oeste da cidade. Durante o passeio, vários motociclistas manifestaram o seu apoio a Maduro em defesa da “pátria” e contra a “violência”, enquanto outros criticaram a oposição.

Numa nota da VTV, o representante da Frente Motorizada de Caracas, Abraham Gallardo, estimou a comparência de “mais de 10 mil veículos motorizados”, que partiram do leste de Caracas para “levar a paz e a tranquilidade a todos os venezuelanos”.

Milhares em Roma, Madrid e Barcelona, dezenas em Lisboa

Em Itália decorreram manifestações em várias cidades, como Roma e Milão. Em Londres, entre 450 e 600 venezuelanos residentes na capital britânica manifestaram-se frente à sua embaixada, no bairro de Chelsea, gritando “Queremos liberdade para a Venezuela e queremo-la agora” e “Edmundo Presidente”, em referência ao candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.

Também em Sidney dezenas de manifestantes estiveram reunidos no centro, onde cantaram o hino nacional e exibiram cartazes com frases como “Venezuela, quero-te livre” ou “Quero conhecer a Venezuela”, como referia o cartaz empunhado por uma criança, entre várias presentes no protesto, algumas envoltas em bandeiras do país sul-americano.

O centro de Bruxelas foi palco de uma manifestação de venezuelanos residentes no país em protesto contra os resultados eleitorais anunciados. “Este Governo tem-nos na pobreza, com pouca liberdade de expressão […]. Se estivéssemos lá, provavelmente também teríamos sido presos, não podemos dizer que discordamos”, disse à EFE Wilmer Veliz, venezuelano da cidade de Valencia que reside em Bruxelas há oito meses.

Ao longo da tarde decorreram mais manifestações noutros países, como França, onde, em Paris, na Praça da Bastilha, debaixo de uma chuva persistente, ou em cidades como Lille, Marselha ou Lyon centenas de pessoas se juntaram para dizer “Não à fraude” e “Não à repressão”. Num cartaz uma manifestante pedia: “Queremos que saia um para que regressem todos.”

Em Pamplona, Espanha, na Praça da Liberdade, centenas de pessoas juntaram-se para reivindicar a vitória da oposição, empunhando bandeiras da Venezuela e cópias ampliadas das atas eleitorais. E o mesmo aconteceu noutras cidades espanholas, como Barcelona e Madrid, aqui com a presidente da Comunidade, Isabel Dias Ayuso, e participar nos protestos.

A Madeira, onde está a maior comunidade luso-venezuelana de Portugal, aderiu a esta “pressão internacional” para que seja feita “uma leitura correta das atas de votos”, conforme destacou à Lusa um dos organizadores da concentração, com cerca de 60 pessoas. Já em Lisboa, para onde também foi convocada uma manifestação a partir das 18h, cerca de 30 pessoas estavam reunidas, de acordo com a estação televisiva SIC.

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sugeriu na quinta-feira duas saídas possíveis para a crise pós-eleitoral na Venezuela: a formação de um Governo de coligação entre membros do chavismo e da oposição, ou a realização de novas eleições.

Esta última proposta foi rejeitada pela líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, bem como pelo Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que afirmou não considerar “prudente” a convocação de um novo sufrágio.

Portugal é um de 22 países subscritores, a par da União Europeia, de uma declaração que pede a “publicação imediata das atas originais” das eleições presidenciais na Venezuela e a verificação “imparcial” e “independente” dos resultados.

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