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A quinta-feira amanheceu com uma enorme onda de suspense. Os funcionários da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) anunciaram que vão iniciar a partir de hoje uma greve de horas extraordinárias, sem que o Governo português apresente qualquer proposta para tentar evitar o desligamento. Os servidores querem mais funcionários e reclamam do excesso de horas extras. No meio da grande incerteza sobre como serão os serviços prestados pela AIMA, os imigrantes que dela dependem estão em pânico.

Os brasileiros serão os principais afetados pela greve da AIMA, caso se confirme. Dos mais de 400 mil processos pendentes no órgão, quase metade refere-se a cidadãos brasileiros. Existem pedidos de autorização de residência em Portugal, alguns dos quais estão parados há mais de dois anos. Segundo a advogada Priscila Corrêaespecializados em direito internacional, são pessoas que correm o risco de perder o emprego e que, ao adoecerem, aguardam atendimento da rede pública de saúde, mas, sem documentação, ficam à margem do sistema.

A promessa dos funcionários da AIMA é prolongar a greve até 31 de dezembro. Dirigentes dos sindicatos que representam a categoria afirmam que as atuais condições de trabalho são péssimas, faltando de tudo: sistema de informática adequado, pessoal para analisar processos, ar condicionado para amenizar o calor insuportável dos prédios. Pior: como disse Artur Sequeira, da Federação Nacional dos Sindicatos de Funções Públicas e Sociais, ao PÚBLICO Brasil, nos refeitórios dos funcionários, há ratos e baratas. Não é por acaso que tantos servidores pedem afastamento para outros órgãos da administração pública.

A situação na AIMA é tão grave que os concursos internos realizados pelo órgão ficam vazios. Recentemente, Foram abertas 58 vagas no setor público e apenas 19 foram preenchidas. A AIMA diz que pode realizar novos processos seletivos, porém, não sabe quando ou se haverá orçamento para isso. O Governo de Luís Montenegro prometeu contratar 300 funcionários para o órgão. Nada, porém, foi feito até agora, o que torna a situação ainda mais caótica, como alertam associações que atendem imigrantes.

Rotina de sofrimento

Os sindicatos que representam os funcionários da AIMA prometem vir a público esta quinta-feira para apresentar a real situação do órgão e dizer se vão realmente cumprir a ameaça de greves. O anúncio foi feito há quase 20 dias, sem que ninguém do Governo se tenha preocupado em tentar reverter o movimento, dizem. Se, com horas extras e trabalho nos finais de semana, a agência não conseguir reduzir o atraso, ficará ainda mais complicado com os serviços restritos ao horário normal de trabalho, como disse ao PÚBLICO Brasil do Brasil em Lisboa a vice-presidente da Câmara, Ana Paula Costa.

Nos postos de abastecimento da AIMA, filas gigantescas viraram rotina. Mesmo com agendamento antecipado, não há garantia de atendimento. São muitas frustrações. “O que vemos na AIMA é desumano”, declarou a advogada Priscila Corrêa, endossada, em alto e bom som, pelos colegas Bruno Gutman e Fábio Pimentel. Gutman, aliás, há meses tenta resolver os problemas de documentação da sogra, sem sucesso.

Os brasileiros que dependem da AIMA pedem ao Governo que impeça a greve dos funcionários do órgão. Para Uelber Oliveira, 36 anos, baiano, é “absurdo” chegar à situação atual, pois os mais afetados são os imigrantes que estão em situação de vulnerabilidade, por falta de documentação adequada.

Para ele, as autoridades portuguesas devem agir rapidamente para tornar menos penosa a vida dos estrangeiros que escolheram Portugal para viver, trabalhar e estudar. Só em 2022, os trabalhadores estrangeiros contribuíram com 1,8 bilhão de euros (R$ 10,8 bilhões) para a Previdência Social, dos quais quase 700 milhões de euros (R$ 4,2 bilhões) vieram de brasileiros.

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