Texto alternativo

Os artigos elaborados pela equipe do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa utilizada no Brasil.

Acesso gratuito: baixe o aplicativo PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.

Dance como um cego. Essa é a proposta da artista paulista Christina Elias, 45 anos, no projeto Sociedade Vendada, que acontece nesta sexta-feira às Fórum de Dançaem Lisboa. A apresentação é uma preparação para a mostra na Bienal de Artes Cênicas, em maio de 2025.

Na apresentação, que dura cerca de 40 minutos, ela dança com os olhos vendados e seu trabalho tem grande parte de improvisação. “Não trabalho com coreografia fixa ou texto fixo. Quero estar em um estado estranho e desconfortável, e coreografias repetidas são confortáveis”, diz ela.

Uma das características do seu desempenho é que pode variar cada vez que é apresentado. Cristina não pense que isso é como um acrobata atuando sem rede. “Minha rede é que treino duro todos os dias.”

Ela é inspirada na dança japonesa Butoh. “O Butoh cria bloqueios e dificuldades para o corpo. É uma forma de desconstruir o visual da dança”, explica. O Butoh foi criado na década de 1950, surgindo no contexto do pós-guerra e em resposta às bombas atômicas que explodiram no Japão no final da Segunda Guerra Mundial, que deixaram milhares de pessoas com problemas físicos.

A escolha da obra de José Saramago foi uma forma de falar da atualidade. “No contexto da sociedade contemporânea, comecei a resgatar esse tema de uma cegueira epidêmica, em que as pessoas se escondem atrás de uma venda para evitar encarar a realidade.”

A primeira vez que leu o livro foi há 27 anos. “Foi quando eu tinha 18 anos. O Ensaio sobre Cegueira Era um dos livros que entraria no vestibular”, lembra.

Ela diz que, para ela, a escrita de Saramago é muito física. E ela cita, como exemplo, que, em diversas ocasiões, a escritora utiliza a expressão: “eu te toco, eu te ouço”. Quando ela releu o livro para se preparar para o show, ela afirmou que tinha sentimentos muito fortes. “Tive momentos de nojo e outros em que não queria parar de ler.”

Mudar a sua vida

Formada em direito e balé clássico, primeira vez de Christina Elias Veio para Portugal para trabalhar como assessora de imprensa no Gabinete de Coordenação da Estratégia de Lisboa e depois no Gabinete de Coordenação do Plano Tecnológico. Viveu em Lisboa durante cinco anos e decidiu mudar de rumo.

Christina Elias, durante ensaio da performance Blindfolded Society
Jair Rattner

No Chapitô — espaço em Alfama que tem uma escola de circo — começou a trabalhar com o palhaço Gardi Huttr. Esteve em Londres, onde fez mestrado em estudos do movimento, e depois se apresentou em Berlim e Roma.

Em 2013, seguindo proposta do Butoh, surgiu um projeto para a Funarte, que recebeu o prêmio Mulheres nas Artes Visuais. Foi uma apresentação com 20 surdos dançando ao som do livro A Paixão Segundo GHde Clarice Lispector, que teve apresentações no Museu de Arte Moderna e no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.

Fuente