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Empreender em Portugal tornou-se uma opção cada vez mais atrativa para investidores e pessoas físicas de diversos países, especialmente do Brasil. O país europeu oferece um ambiente de negócios favorável e tem uma localização estratégica na União Europeia (UE), que representa um mercado consumidor potencial de mais de 500 milhões de pessoas.

Mariana Balaciano, advogada e sócia da CPPB Law, explica que é simples montar uma operação em Portugal e criar, por exemplo, uma rede logística para servir Espanha, aproveitando o enorme potencial da UE.

“Em cerca de 6 horas, saindo de Lisboa, chega-se a Madrid de carro. Além disso, o Governo Português tem os seus próprios planos de financiamento e incentivos para quem pretende iniciar um negócio em zonas menos desenvolvidas, como o Alentejo. Faz parte de uma política da União Europeia para promover a coesão social”, explica Mariana.

O primeiro passo ao pensar em abrir um negócio é decidir qual tipo de estrutura jurídica se adapta melhor à sua realidade. As opções mais comuns incluem:

A advogada Mariana Balaciano explica os caminhos para abrir uma empresa em Portugal sem grandes dores de cabeça
Arquivo pessoal

  • Empresa de Cotas (Lda.): ideal para pequenas e médias empresas. Requer um mínimo de dois sócios e um capital social mínimo de 1 euro por pessoa.
  • Sociedade Anónima (SA): mais adequado para empresas maiores. Requer no mínimo cinco acionistas e capital social mínimo de 50 mil euros (R$ 300 mil).
  • Empreendedor individual: opção para quem deseja trabalhar de forma independente, sem separar o patrimônio pessoal do da empresa.

Cada tipo de empresa tem suas vantagens e obrigações legais, e o custo mínimo para abertura em Portugal é de 220 euros (R$ 1.320). É por isso, É importante considerar cuidadosamente qual deles se alinha melhor com os objetivos de negócios do empreendedor. Consultar um advogado ajuda a reduzir custos e evitar erros, uma vez que as legislações da União Europeia e de Portugal são muito diferentes da legislação brasileira.

Cuidados necessários

Depois de decidir a estrutura, é hora de escolher o nome da empresa. Este nome deve ser único e não pode ser confundido com os de empresas existentes. Para verificar a disponibilidade, você pode consultar o Cadastro Nacional de Pessoas Coletivas (RNPC)que possui um conjunto de nomes pré-aprovados. Isso acelera o processo.

Caso o empresário deseje colocar um nome específico na empresa, deverá solicitar o chamado Certificado de Admissibilidade. É possível fazer essa verificação online.

A burocracia é uma parte inevitável deste processo, mas estar bem preparado pode acelerar significativamente as coisas. Em termos de documentos dos sócios e da futura empresa, é importante ter em mãos: identificação dos sócios (passaporte ou bilhete de identidade); estado civil e estado civil, se for o caso; endereço; naturalidade; número de contribuinte; certificado de admissibilidade da firma (obtido no RNPC), caso não seja utilizado nome proveniente da troca de nomes do Registo Nacional.

A abertura da empresa propriamente dita pode ser feita basicamente de duas formas:

  • A primeira é com o aconselhamento de um advogado, contabilista ou solicitador. “Este último é um profissional que realiza trabalhos jurídicos, como preparação de documentos simples, reconhecimento de assinaturas, etc. É uma figura comum também na Inglaterra, com paralegais”, explica Mariana.
  • A outra seria abrir uma empresa diretamente através do balcão Empresa na Hora, oferecido pelo Governo. Neste caso, é necessário agendar previamente uma consulta numa das conservatórias do registo comercial através do Portal SIGA.

Ao optar por esta via, é importante certificar-se de que, no caso de empresas com mais de dois sócios, o interessado informe previamente o serviço onde efetuou a marcação para evitar recusa do serviço. Embora não exista um limite legalmente estabelecido para o número de sócios, é comum que os cartórios acabem não prestando atendimento quando há muitos sócios na empresa, devido ao tempo necessário para elaboração da documentação.

Quando a empresa é aberta, seja com auxílio de advogados ou através da Empresa na Hora, tanto o Número de Identificação de Pessoa Coletiva (NIPC)que equivale ao CNPJ do Brasil, bem como ao número de inscrição na Previdência Social.

Além disso, o empresário recebe cópia do Acordo Social e da Certidão Permanente, certidão de nascimento da empresa. “A partir daí a empresa já existe formalmente e pode assumir obrigações, contratar e abrir conta em banco, por exemplo”, detalha Mariana.

Próximas etapas

É importante lembrar que, uma vez criada, a empresa dispõe de 15 dias para fazer a chamada declaração de início de atividade junto da Autoridade Tributária (Finanças). “Esse processo é realizado pelo contador da empresa, peça fundamental em qualquer empreendimento. Ou seja, uma vez aberta a empresa, recomendamos fortemente que o empresário contrate um contador para acompanhá-lo nessa jornada. É ele quem vai garantir que o empresário cumprirá todas as obrigações fiscais e contábeis, evitando sustos e garantindo a opção por regimes tributários adequados”, explica o advogado.

Dependendo do setor em que a empresa irá atuar, poderão ser necessárias licenças ou autorizações adicionais. Por exemplo, as empresas de alimentos e bebidas necessitarão de licenças sanitárias, enquanto as empresas de construção necessitarão de certificações específicas.

O empresário brasileiro Gil Guimarães, que abriu recentemente a sua primeira pizzaria em Lisboa, a Sofi, afirma que o processo de registo comercial foi tranquilo. Mas reconhece que grande parte da facilidade veio do facto de ter como sócio um sócio português, que trabalha em vários setores e já conhece bem as regras.

“De qualquer forma, contratamos um advogado para que tudo fosse feito conforme a lei. Isso ajudou muito a desburocratizar”, destaca. Para quem vem de outro país, é preciso ter cuidados redobrados, para que o sonho de abrir um negócio não se transforme em pesadelo.

Segundo Antonio Pedro Setembrino, um dos sócios da rede de bares Jobim, como estrangeiro, a burocracia foi pesada para que ele conseguisse fazer o negócio decolar com os demais sócios. Mas nada que inviabilizasse o projeto. “Com um bom advogado a questão burocrática pode ser resolvida com bastante rapidez”, reconhece. “Havia também uma burocracia do lado bancário, que era ainda maior”, acrescenta.

Ele ressalta que os custos para abrir um negócio variam de acordo com o porte do negócio. Portanto, é sempre bom ter em mente o que você realmente quer fazer. Controlar os gastos desde o início do processo é um bom aliado quando a empresa já está em pleno funcionamento.

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