Nicolás Maduro bate palmas em seu programa de TV estatal.

Líderes estrangeiros, inclusive dos Estados Unidos e do Brasil, reagiram com alarme e advertências depois que a Venezuela emitiu um comunicado mandado de prisão para o líder da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia esta semana.

Na terça-feira, o Canadá juntou-se aos protestos, enquanto o governo do presidente Nicolás Maduro continua a reprimir os membros da oposição após uma eleição presidencial contestada.

“O Canadá condena categoricamente o mandado de prisão emitido contra Edmundo González pelas autoridades venezuelanas”, Global Affairs Canada escreveu em seus canais de mídia social.

“O Canadá insta as autoridades venezuelanas a porem fim aos atos repressivos que silenciam as vozes democráticas e criam um clima de medo.”

O governo de Maduro declarou-o vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho, com quase 52 por cento dos votos. Mas, ao contrário das eleições anteriores, não divulgou a contagem dos votos para apoiar essa afirmação.

A oposição, que apoiou Gonzalez como seu candidato, divulgou desde então registos que diz mostrarem que o antigo diplomata venceu.

O mandado de prisão contra Gonzalez veio depois que o governo convocou o candidato da oposição para testemunhar como parte de uma investigação nas reivindicações de vitória da oposição.

O procurador-geral Tarek William Saab também acusou Gonzalez e seus aliados de instigar a desobediência e a insurreição.

Na segunda-feira, quando Gonzalez não cumpriu a intimação, Saab emitiu um mandado de prisão.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, aplaude em seu programa de TV Con Maduro+ em 2 de setembro (Marcelo Garcia/Reuters, folheto do Palácio de Miraflores)

Desde então, os líderes internacionais condenaram a medida, mesmo em países que, de outra forma, mantiveram relações amistosas com o governo Maduro.

Em declarações à agência de notícias Reuters na terça-feira, Celso Amorim, conselheiro de política externa do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, intensificou as críticas do Brasil a Caracas.

“Não há como negar que há uma escalada autoritária na Venezuela”, disse Amorim.

O Brasil está entre os países que tomaram medidas para ampliar as relações bilaterais com a Venezuela nos últimos anos.

Ainda assim, Amorim alertou que a detenção de Gonzalez seria vista como uma “prisão política” no Brasil, caso se concretizasse. Ele também acrescentou que as relações ficaram tensas.

“Não sentimos abertura ao diálogo. Há uma reação muito forte a qualquer comentário”, disse ele à Reuters.

Os EUA, entretanto, têm sido hostis a Maduro, sancionando o seu governo por alegado retrocesso democrático. Numa coletiva de imprensa na terça-feira, o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, repetiu suas condenações à luz do mandado de prisão.

“Condenamos o mandado de prisão contra Edmundo Gonzalez por supostamente incitar a violência”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, aos repórteres.

“Esta ação arbitrária e com motivação política demonstra até que ponto Nicolás Maduro irá para tentar manter o poder, após a sua tentativa de roubar as eleições presidenciais de 28 de julho.”

Miller destacou que outros países da região, anteriormente em termos mais amigáveis com a Venezuela, também se tornaram cada vez mais críticas.

“Eu observaria que não são apenas os Estados Unidos que condenam este mandado de prisão”, disse Miller. “São os países da região: Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai que condenaram este mandado de prisão injustificado.”

A oposição da Venezuela tem afirmado que venceu as eleições com folga – consistente com as sondagens pré-eleitorais que mostraram que Maduro perdeu por uma margem intransponível.

No entanto, o governo tem respondeu aos protestos com uma repressão mortal e detenções generalizadas.

O grupo de direitos humanos Foro Penal estima que cerca de 1.581 pessoas foram presas desde 28 de julho, incluindo membros de alto escalão da oposição. Uma estimativa 23 pessoas foram mortos nos protestos, segundo outro grupo, o Monitor de Vítimas.

José Vicente Haro diante das câmeras de TV do lado de fora da casa de Edmundo Gonzalez.
José Vicente Haro, advogado do líder da oposição venezuelana Edmundo Gonzalez, fala à mídia em Caracas, Venezuela, em 3 de setembro (Leonardo Fernandez Viloria/Reuters)

O próprio Gonzalez escondeu-se nas semanas desde a eleição. Falando do lado de fora da casa de Gonzalez em Caracas na terça-feira, o advogado da oposição José Vicente Haro disse aos repórteres que o candidato não havia buscado asilo no exterior.

Solicita o Governo Maduro para divulgar a contagem dos eleitores para provar a sua vitória, até agora passaram despercebidos.

O porta-voz da segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse no início desta semana que os EUA estavam a considerar “uma série de opções para demonstrar ao senhor Maduro e aos seus representantes que as suas ações na Venezuela terão consequências”.

Na segunda-feira, a administração Biden apreendeu um avião de US$ 13 milhões na República Dominicana que teria sido supostamente comprada para Maduro, em violação das sanções económicas.

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