Uma estreia auspiciosa para a Quinta S. José de Barrilário

Quando, em 2017, um dos sócios da Terras & Território pediu-lhe que o acompanhasse numa visita a uma quinta perto de Pacheca, onde o grupo se preparava para investir, Hugo Fonseca pensou: mas isso está abandonado, não é um bom investimento. Ele pensou e tentou dissuadir os patrões de fazerem o negócio.

Sem sucesso. E também lhe caiu sobre os ombros — não só, mas também — o trabalho de recuperação da vinha da propriedade de 28 hectares em Vacalar, Armamar, aninhada junto ao rio Temilobos e muito mais abrigada da agitação do Douro do que Pacheca e outras fazendas plantadas às margens desse rio. Desta vez, com sucesso.

“Hoje podemos dizer que temos aqui uma vinha”, partilhou há dias, no lançamento dos dois primeiros vinhos da Quinta S. José de Barrilário, o diretor de produção da Terras & Terroir. Especificamente, 15 hectares de vinha, que encantam em torno do recém-inaugurado hotel cinco estrelas.

Foram recuperadas bordaduras, foram feitas alterações nas podas e foram plantadas novas vinhas nos níveis mais baixos — tintos, Touriga Nacional, Tinto Cão e Sousão. Nas duas reservas agora lançadas, a pureza aromática, o trabalho complementar de barril e frescor. O branco, feito com uvas de outra localidade, Parambos, Carrazeda de Ansiães, é denso e gordo, concentrado e frescolindo. E este tinto, de 2020, tem, desde logo, uma nariz fabuloso, que espelha bem a sua terra natal, com frutos vermelhos e silvestres e um lado floral na mistura.

A boca confirma o que o cheiro sugeria. Fruta, muita frescura — chove menos este ano território de transição entre o Baixo e o Cima Corgo — e um tanino muito presente, mas aveludado, alguma especiaria. Um vinho gastronómico e versátil à mesa. Boa química com costela de cordeiro cozinheiro Luís Filipe Guedes também resistiu bem quando o provamos com bacalhau à lagareiro. É muito jovem que será interessante acompanhar nos próximos anos.

O Barrilário possui vinhas entre os 70 e os 300 metros de altitude, maioritariamente voltadas a nascente e que não sofrem com o calor excessivo dos outros Douros. Beneficiam das primeiras horas de sol da manhã e, como afirmam os enólogos Maria Serpa Pimentel e João Silva e Sousa, dão origem a mostos equilibrados, sem concentração excessiva, e com bom acidez“Essa coisa aqui é fresca, fresca, fresca; fruta, fruta, fruta”. A julgar por esta estreia, é assim mesmo.

Duas notas finais para a sustentabilidade deste e de outros projetos Terras & Terroir. Tivemos a satisfação de perceber que reduziram em 100 gramas o peso da garrafa que mais usam — há alguns meses fomos surpreendidos por uma garrafa muito pesada, cujo copo dava para fazer duas garrafas; este modelo tem vindo a desaparecer do portefólio e agora só está disponível em alguns mercados (casmurros) — e com a poupança resultante instalaram dez colmeias na quinta a pensar nas oliveiras. Segundo Hugo Fonseca, as abelhas ajudam a aumentar a percentagem de flores que dão frutos. E é tamanho o entusiasmo que está prevista a instalação de mais 20 colmeias. O olival também crescerá. Existem hoje 450 oliveiras, mas nos terraços voltados para Temilobos, em breve surgirão mais oliveiras, macieiras, laranjeiras e amendoeiras.

A nível social, esta foi a maior colheita de sempre da Pacheca, pura e simplesmente porque o produtor não conseguiu dizer não a quem lhe bateu à porta, desesperado por vender as uvas que de outra forma ficariam na vinha. E comprou “a preços acima da média”. O aumento da produção será de 15% a 23%. Sem o viticultor não há vinho e sem vinho não há negócio, nem mesmo enoturismo.

Nome Quinta São José do Barrilário Reserva Tinto 2020

Produtor Quinta da Pacheca (Terra e Terroir)

Castas Touriga Francesa (60%), Sousão (15%), Touriga Nacional (15%) e Tinta Roriz (10%)

Região Douro

Grau alcoólico 14%

Preço (euros) 35 (PRR recomendado)

Pontuação 93

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de degustação Um tinto que cheira ao local onde nasceu, a Quinta São José do Barrilário, num Douro mais abrigado do calor das cotas mais baixas junto ao rio, na aldeia de São Joaninho, freguesia de Vacalar, Armamar. No nariz fruta vermelha e silvestre, com algum floral na mistura. Na boca a fruta confirma-se, é muito fresco e tem um tanino muito presente mas aveludado. Submetendo os mostos a uma extracção suave, o processo maloláctico ocorreu em simultâneo com a fermentação alcoólica. E o vinho estagiou 18 meses em barricas de 5000 litros e barricas de 300 litros, usadas de carvalho francês. Uma estreia auspiciosa, em 6600 garrafas.

Tipo Tinto

Designativo Reserva

De novo 2020

Características Frescura

Harmonização

Harmonização

Harmonização Carne;

Origem Baixo Corgo (Douro)

Fuente