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Há poucos dias, o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou o Conselho de Estado para falar sobre a economia nacional e internacional. Referiu-se ao tempo em que esteve na oposição e aprovou três orçamentos de António Guterres, então primeiro-ministro. Elevou sua autoestima e deu aula de política. Há momentos para disputar e há momentos para somar. Mensagem dada.

A semana passada assistiu a mais uma lição política, desta vez entre Luís Montenegro, primeiro-ministro, e Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista (PS). Primeiro, o Governo apresenta a proposta de Orçamento do Estado para 2025. Depois, todos os partidos da oposição manifestam as suas divergências. Mas os dirigentes partidários querem saber: quem negociará com a Aliança Democrática (AD), para a qual Montenegro foi eleito? Quem o Governo quer ao seu lado? O Chega posiciona-se como um lobo faminto, esperando que, na falta de coro do PS, tenha migalhas e oportunidade de atacar.

O clima esfria um pouco. Acredito verdadeiramente que todos os envolvidos tiveram acesso a pesquisas de opinião que refletem o que as pessoas pensam e querem. O Governo pára, escuta e decide lançar, nas palavras do primeiro-ministro, “uma proposta irrefutável” para Pedro Nuno Santos. Em menos de 24 horas, o PS responde. Montenegro e Pedro Nuno articulam-se como personagens da política pré-socrática (Sócrates, o filósofo grego).

Assistimos à exuberância da dialética entre os dois maiores líderes do país. Falam no debate de ideias, com suas verdades e desdobramentos para encontrar um caminho do meio. Eles decoraram a democracia. Ambos se fortaleceram como políticos, apesar dos desconfortos de algumas figuras da AD e do PS. O que temos assistido é uma discussão a um bom nível político. Com uma reflexão abrangente sobre o Orçamento e uma predisposição para não levar o país a novas eleições.

Enquanto isso, no Brasil, o Orçamento para 2025 está paralisado em detrimento das eleições municipais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é quem apresenta a proposta orçamentária à bancada do governo, ou seja, aos parlamentares que apoiam a situação, e a entrega ao presidente da Câmara, Arthur Lira, para votação e, se aprovado, segue para apreciação do Senado.

São os dirigentes partidários que debatem a questão do Orçamento. Um puxa daí, outro daqui, encontro e desencontro de números. Não se trata apenas de uma questão de números, mas, principalmente, de uma questão de poder. As dificuldades são, em grande parte, o jogo das vaidades políticas.

Você se lembra quando, no meu primeiro texto, do dia 13 de agosto, te apresentei ao Baixo Clero, também chamado de Centrão? Este é o grupo de parlamentares responsável por aprovar ou não o Orçamento de 2025. É o Centrão quem vai ditar as regras orçamentárias e a destinação dos inúmeros recursos. Existem vários grupos de jogadores no casino do Congresso. Existe o grupo Poker, o grupo BlackJack, o grupo Roleta e o grupo Baccarat. Ou seja, existem jogos para todos os gostos.

Em Portugal, vejo mais o debate de ideias, a persuasão e a dialética da política serem praticadas com frequência. Agora, no Brasil, assisto jogos de azar vulgares no Congresso. Em ambos os países a razão é a mesma: nem em Portugal nem no Brasil há maioria absoluta para os governos e, por isso, é necessário negociar com a oposição.

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