Três soluções para colocar a inteligência artificial para trabalhar para você

Esta é a semana em que conhecemos os nomes galardoados com o Prémio Nobel em diferentes áreas. Os vencedores do prêmio já são conhecidos Prêmio Nobel de Química — David Baker, Demis Hassabis e John M. Jumper, que usaram inteligência artificial para descobrir e prever estruturas de proteínas — e de Física —John J. Hopfield e Geoffrey E. Hinton, distinguidos por lançar as bases da inteligência artificial.

Você notou o denominador comum?

Nem é novidade: a inteligência artificial já existe e está funcionando a todo vapor em nossas vidas. Há quem tenha um fascínio especial por isso e queira saber até onde pode ir; outros (como eu) tentaram escapar até que fosse inevitável. Eles são os adotantes tardiosse quisermos chamá-los assim, porque ninguém está imune a isso.

Na verdade, basta pesquisar um pouco para saber que é impossível escapar. Está nas ferramentas que usamos todos os dias — que, se bem feitas, nem percebemos que a inteligência artificial está lá. Mas também está em grande parte do conteúdo que consumimos nas redes sociais, por exemplo, em imagens e vídeos criados com o objetivo de entreter ou chocar. Como se a realidade não fosse chocante o suficiente. Ou como se, como espécie, precisássemos de um substituto para nossa criatividade – e não pelas tarefas repetitivas e dolorosas (nossa pedra de Sísifo) que somos obrigados a realizar.

Com os passos gigantescos dados nos últimos anos, vários problemas tornaram-se mais agudos. Uma das coisas que vejo repetidas com mais frequência é se a inteligência artificial irá roubar empregos. Mas, mais recentemente, deparei-me com outra questão: é ético que a inteligência artificial faça parte do meu trabalho – aquele para o qual sou pago – para mim?

Usar a inteligência artificial pode fazer com que você execute algumas tarefas mais rapidamente – mais rápido do que eu fazia antes e mais rápido do que meus colegas que não sabem como usá-la. É um fator que pode me destacar, mas sem muito mérito próprio.

Rui Veiga, professor especialista na área da saúde e segurança no trabalho no ISLA (Santarém), olha para esta questão de uma forma quase descontraída. Ele trabalha o impacto da inteligência artificial no trabalho e vê essa tecnologia como algo com vantagens “tão superiores a quaisquer desvantagens” que a questão do não uso nem se coloca.

O importante, defende, é saber utilizá-lo: como coadjuvante e não como substituto.

Atualmente, quem sabe usar bem a inteligência artificial no trabalho tem vantagem sobre quem não sabe – e essa lacuna só aumentará no futuro. “É uma questão de tempo”, diz ele. “As pessoas que não aproveitarem o melhor que a inteligência artificial nos dá ficarão para trás. Se tenho o poder de influenciar alguém é dizendo ‘aprenda a usá-lo bem’.”

E não é apenas para tarefas chatas. “Nas áreas em que sou especialista, a inteligência artificial não vai me ensinar nada. Já domino o assunto e consigo ir além e explicar melhor. Mas se entro em áreas que não domino mais tão bem, é muito rápido em me passar informações”, explica a professora.

Às vezes, isso é suficiente para realizar melhor o seu trabalho, sem despender muito esforço, poupando-se da frustração de tentar entender um assunto que você não entende.

Você não é mais ético quando compartilha informações confidenciais da empresa com eles – e é por isso que há empresas que tentam limitar seu uso. Afinal, a rede que alimenta a inteligência artificial “também se alimenta de nós” e a partilha de informação pelos colaboradores pode ser “um problema de segurança”.

“Se tiver conhecimento que é um fator competitivo face à sua concorrência, a rede irá apropriar-se de parte dessa informação. Isso é um risco e entendo que tenham reservas”, afirma Rui Veiga.

Foi com muita resistência que aceitei a inteligência artificial na minha vida. No entanto, existem aplicações que se tornaram verdadeiramente úteis no meu trabalho: realizam para mim tarefas que preferiria não realizar. Aqui estão alguns exemplos (e obrigado ao meu colega Karla Pequenino por me apresentar a tantos deles):

  • MyGoodTape. É uma ferramenta de transcrição: pega o áudio e transforma em texto. Foi criado a pedido de um jornal e atrevo-me a dizer que é uma das ferramentas preferidas de qualquer jornalista: poupa-nos horas de transcrições. Na maioria das vezes você só precisa ouvir o áudio novamente para corrigir pequenos erros ou erros de digitação. Com áudios de até 20 minutos, você pode usá-lo gratuitamente três vezes por mês. Depois disso, você é pago.
  • Profundo. Ele é um bom tradutor – consegue, por exemplo, identificar o contexto e até adaptar algumas expressões idiomáticas. Não é infalível e, portanto, não elimina a necessidade de revisão por dois olhos humanos, mas economiza tempo. Possui uma versão gratuita (limitada) e uma versão paga.
  • Elicitar. É um auxiliar de pesquisa que permite identificar e resumir os principais conceitos sobre um determinado tema, retornando os estudos mais citados e uma lista de muitos outros que também podem ser relevantes. Tem limitações: só funciona bem em inglês e é pago após o período experimental.

Trabalho extra

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