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Premiado pelo público no Festival Queer Lisboa 2024, o filme Sem coração chega às salas do circuito comercial de Portugal nesta quinta-feira (17/10). Dirigido pelos cineastas Nara Normande e Tião, o filme conta a história de Tamara, interpretada pela atriz Maya de Vicq, e suas descobertas na adolescência. A trama se passa no litoral de Alagoas no verão de 1996. Tamara está se despedindo do lugar onde cresceu antes de se mudar para Brasília. Um dia, ele ouve falar de uma garota que chamam de Heartless, interpretada por Eduarda Samara, devido a uma cicatriz no peito.

A trajetória internacional da obra começou em 2023, no Festival de Veneza. Desde então, já percorreu vários festivais pelo mundo, como Japão, Cuba, África do Sul e Suécia, até chegar a Portugal, onde foi premiado pelo público Queer Lisboa no mês passado. “Estamos tentando chegar ao maior número de pessoas possível, nos mais diversos países. Estávamos no Japão e a ligação que eles tiveram com o filme foi muito boa. Lá, recebemos um prêmio do júri. O público realmente se conectou com o filme. Principalmente, pelo aspecto sensorial que carrega. Acho que os japoneses são mais racionais. No debate, teve um telespectador que disse estar racionalizando muito enquanto assistia ao filme. Então ele parou de racionalizar e se permitiu entrar na história. Foi um retorno muito legal”, comenta Nara.

Quando questionados sobre o significado da obra, os diretores procuram não dar detalhes. “Procuramos não falar muito, porque isso nos convida a estragar o filme para as pessoas. Cada um tem seu universo e sua interpretação. Se dissermos o que pensamos, o espectador pode pensar que está errado, quando na verdade não está. O filme sempre convida contribuições criativas”, afirma Tião.

Começo de tudo

O projeto Sem coração Começou com um curta filmado há 10 anos pela dupla e que estreou no Festival de Cannes de 2014, onde foi premiado. Também recebeu diversos prêmios no Brasil e em outros países. Ao escrever o primeiro roteiro, a dupla percebeu que havia deixado de lado algumas situações. “Quando fomos fazer o curta, não planejávamos transformá-lo em um longa-metragem. Depois, percebemos que aquele universo era muito interessante e cheio de complexidades”, lembra Nara. “Foi uma experiência marcante com os meninos e com Duda, que interpreta a personagem do curta e longa-metragem”, completa.

Diante de tudo que viveram e sentiram, os diretores ficaram abalados e surgiu a ideia de estender o filme. “Alguns anos depois, começamos realmente a escrever e a levar o projeto adiante”, diz Nara. “Ficamos felizes com o resultado do curta. Partimos para outros projetos. Mas tivemos a sensação de que tínhamos mais coisas para ver naquele lugar. E nós dois percebemos isso”, acrescenta Tião.

O filme foi produzido pelos cineastas Kleber Mendonça Filho e Emilie Lesclaux. É uma coprodução entre Brasil, França e Itália. “Quando começamos a desenvolver o projeto, os editais estavam congelados no Brasil. O presidente era Michel Temer e com Jair Bolsonaro foi ainda pior. Emilie e Kleber já tiveram apoio que conquistaram por conta do resultado do Aquário. Foi um apoio financeiro automático. Então tínhamos esse dinheiro”, comenta Tião.

Mas houve mais apoio ao trabalho. “Recebemos um pouco do governo do estado de Pernambuco, porém os recursos ainda eram insuficientes. Então, buscamos apoio na França e um produtor italiano acabou se interessando também. conseguimos arrecadar um pouco mais de dinheiro”, detalha o diretor “Teve o Rai, na Itália, que foi o primeiro a entrar. Na França, foi o CNC, Cinema do Mundo, em que um filme não falado em francês pode. captar recursos de até 250 mil euros (R$ 1,5 milhão). Foi uma seleção difícil, mas passamos”, completa Nara.

Ao receber recursos estrangeiros, a produção brasileira, por outro lado, precisa contar com profissionais de países apoiadores trabalhando no filme. “No caso da França, tivemos a russa Evgenia Alexandrova, que dirigiu a fotografia. Os efeitos especiais, correção de cores e mixagem foram todos feitos na França. A Itália foi responsável pela edição de som e pela compra de algumas músicas. Nós compartilhamos”, explica Nara.

O filme Sem coração Já teve distribuição comercial na França, Itália e Brasil. Em Portugal, será exibido no Cinema City Alvalade, em Lisboa. Em Coimbra será exibido na Casa do Cinema e, no Porto, no Cinema Trindade.

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