Miniaturas do ano

Al-Fukhari, Gaza – Para Rawaa Abu Mohsen, é a vida que sua irmã Baraa levou que ela quer lembrar, e não como ela morreu em 30 de outubro.

Baraa, 31 anos, foi morta junto com a mãe em um bombardeio israelense.

“Minha mãe era a melhor amiga de Baraa”, Rawaa relembrou o vínculo que compartilhavam.

Claro, acrescentou ela, como qualquer mãe e filha, elas brigariam por coisas triviais, mas essas coisas passavam rapidamente.

Para Rawaa, “Baraa era minha irmã, minha companheira e parceira em minhas lembranças mais felizes. Ela sempre me pedia para ir com minha filha na casa dela, para ficarmos acordados e conversar”.

Encontrando sua paixão

Na escola, Baraa tinha dificuldades com a educação formal, recordou a irmã, preferindo expressar-se através dos intermináveis ​​desenhos que cobriam os seus livros escolares e trabalhos de casa.

Mesmo assim, ela se saiu bem na escola, acabando por obter as notas necessárias para entrar na universidade e estudar inglês.

No início, ela esperava trabalhar para uma organização internacional, mas no final a sua criatividade ganhou força, levando-a a estabelecer o seu próprio negócio, desenhando e confeccionando os minúsculos modelos que decoram a superfície dos bolos.

Foi um talento que Baraa descobriu quase por acidente.

Baraa encontrou sua paixão quando aprendeu a fazer miniaturas (Screengrab/Cortesia de Ruwaida Amer)

“Ela estava navegando na internet” quando se deparou com a ideia de miniaturas, disse Rawaa. Logo, ela “começou a trabalhar neles, apesar de não ter as ferramentas necessárias para produzir produtos de qualidade”.

Baraa não conseguiu encontrar a pasta necessária para fazer essas miniaturas, por exemplo, então ela mesma teve que prepará-la com ingredientes domésticos comuns e pintá-la à mão.

Amando o trabalho que fazia e sentindo-se criativamente realizada, Baraa logo conheceu um homem por quem se apaixonou e se casou.

Para sua alegria, ela logo engravidou e recebeu de braços abertos sua querida filha, Tamara.

Tamara era o mundo de Baraa, lembrou Rawaa. Quando estavam juntos, não precisavam do mundo, viviam vidas próprias, separados de tudo o que os rodeava.

Construindo um futuro, apenas para tê-lo roubado

Mas logo começaram a aparecer rachaduras no casamento de Baraa e ela voltou a morar com os pais, enquanto explorava maneiras de expandir seu negócio, para que isso pudesse sustentar ela e Tamara, e o futuro deles.

Ela conseguiu obter financiamento de uma ONG e começou a trabalhar para obter um diploma em gestão de projetos quando a guerra eclodiu.

Baraa falando sobre seu projeto
Baraa queria ser forte e construir um futuro para ela e Tamara (Screengrab/Cortesia de Ruwaida Amer)

“Ela estava sempre pensando em como poderia ser

forte

e continuar a viver sua própria vida”, lembrou Rawaa, “Ela não se importava com nada, exceto com sua filha”.

O dia em que Baraa e sua mãe foram mortas está gravado na memória de Rawaa.

“Estávamos conversando na noite anterior”, disse ela, “ela estava me contando como Tamara (agora com sete meses) tinha medo do bombardeio e chorava por causa do barulho.

“Ela me pediu para trazer meus próprios filhos para a casa da família porque a casa e a vizinhança eram mais seguras que as nossas.”

Ironicamente, a casa da família seria bombardeada no dia seguinte.

“Nunca pensei que isso aconteceria com minha família”, disse Rawaa, acrescentando que lhe disseram que todos estavam bem quando o ataque aconteceu pela primeira vez.

Mais tarde, ela descobriu que sua irmã e sua mãe estavam entre os gravemente feridos.

Rawaa pôde visitá-la, mas a condição de Baraa permaneceu instável.

“Ela acordou, mas não comeu nada. No último dia, ela pediu para comer pão, zaatar, azeite, azeitonas e picles”, lembrou Rawaa.

A última coisa que sua irmã pediu antes de perder a consciência pela última vez foi ver sua filha, para poder amamentá-la.

Baraa morreu pouco depois, falecendo com a mãe.

Seu último desejo: abraçar seu filho.

Fuente