Geórgia assina controversa lei de “influência estrangeira”, apesar dos protestos

Os planos geraram quase dois meses de protestos diários em massa. (Arquivo)

Tbilissi, Geórgia:

A Geórgia sancionou na segunda-feira uma controversa legislação sobre “influência estrangeira”, levando a sua oposição pró-europeia a prometer reformas políticas de longo alcance caso ganhe as eleições de outubro.

A lei, que os críticos dizem ter como modelo a legislação russa utilizada para reprimir a dissidência, desencadeou semanas de protestos diários na capital, Tbilisi, e de condenação por parte dos parceiros ocidentais da Geórgia.

Bruxelas alertou que a medida irá desviar a nação do Mar Negro do seu caminho para a adesão à União Europeia, e os Estados Unidos também ameaçaram as autoridades georgianas com proibições de viagens individuais.

Apesar dessas advertências, a presidente do parlamento da Geórgia, Shalva Papuashvili, sancionou na segunda-feira as medidas, a fase final de aprovação depois de a câmara ter votado na semana passada para anular um veto apresentado pela presidente Salome Zurabishvili.

“Assinei hoje a lei sobre a transparência da influência estrangeira, cujo principal objectivo é fortalecer a sustentabilidade dos sistemas políticos, económicos e sociais da Geórgia”, disse Papuashvili num comunicado.

As medidas exigem que as ONG e os meios de comunicação social que recebem pelo menos um quinto do seu financiamento do estrangeiro se registem no prazo de dois meses como “organizações que prosseguem os interesses de uma potência estrangeira”.

Os planos desencadearam quase dois meses de protestos diários em massa, nos quais a polícia utilizou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar manifestações, espancar e prender manifestantes.

Carta pró-UE

As medidas expuseram e aprofundaram as divisões na sociedade georgiana antes das eleições parlamentares marcadas para 26 de Outubro.

A votação é vista como um teste fundamental à democracia da Geórgia, mais de 30 anos depois de Tbilisi ter conquistado a independência com o desmembramento da União Soviética.

Na segunda-feira, quase todos os partidos da oposição da Geórgia começaram a assinar uma carta política pró-europeia apresentada pelo Presidente Zurabishvili numa tentativa de criar uma frente unida antes da votação.

Concordaram em prosseguir reformas eleitorais, judiciais e de aplicação da lei de longo alcance através de um governo multipartidário interino, caso conquistassem assentos suficientes no parlamento para obter uma maioria.

Eleições antecipadas seriam então convocadas no próximo ano, concordaram os grupos.

O plano envolveria a revogação da lei da “influência estrangeira” e de vários outros diplomas legislativos adoptados pelo Georgian Dream que, segundo a oposição, são “prejudiciais ao rumo europeu da Geórgia”.

Entre os grupos que assinaram o pacto estava a principal força de oposição do país, o Movimento Nacional Unido, do ex-presidente Mikheil Saakashvili, fervorosamente pró-Ocidente.

“Os eleitores georgianos esperam que a oposição mostre unidade na corrida eleitoral”, disse Tina Bokuchava, uma das suas líderes, à AFP.

‘Transparência’

Dezenas de ONG georgianas prometeram desafiar a lei da “influência estrangeira” e apelar ao tribunal constitucional do país e ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

O Georgian Dream enfrenta acusações crescentes de afastar o país da sua trajetória ocidental e de voltar à órbita da Rússia.

Essas acusações intensificaram-se desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022 e com a aprovação da lei da “influência estrangeira”.

O partido afirma estar comprometido com as aspirações europeias da Geórgia e afirma que a lei irá garantir a “transparência” em relação aos grupos financiados pelo Ocidente que, segundo ele, prejudicam a soberania do país.

Ativistas georgianos, jornalistas independentes e políticos da oposição também acusaram o governo de uma campanha concertada de violência e ameaças contra líderes de ONG.

A candidatura da Geórgia à UE está consagrada na constituição do país e é apoiada – de acordo com sondagens de opinião – por mais de 80 por cento da população.

Tbilisi obteve o estatuto de candidato à UE no ano passado, mas Bruxelas sublinhou a necessidade de reformas “significativas e irreversíveis” em áreas como o poder judicial, o poder dos oligarcas e a liberdade dos meios de comunicação social.

(Exceto a manchete, esta história não foi editada pela equipe da NDTV e é publicada a partir de um feed distribuído.)

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