Bruxelas:
A Itália se tornou a primeira nação de peso pesado a votar para o próximo parlamento da UE no sábado, em um teste à força da líder de extrema direita Giorgia Meloni em casa – e à influência futura no bloco.
A maioria dos 27 países membros da União Europeia, incluindo as potências França e Alemanha, vão às urnas no domingo, o último dia, com os resultados globais previstos a serem divulgados no final da noite.
As primeiras assembleias de voto já foram abertas no território francês da Nova Caledónia, no Pacífico, local de tumultos mortais este mês.
A votação de dois dias em Itália – a terceira maior economia da UE, com 76 dos 720 assentos no novo parlamento – poderá ter grandes consequências.
Meloni votou no seu círculo eleitoral de Roma, sob as temperaturas sufocantes do final da primavera, dizendo aos jornalistas que a disputa pela UE “vai moldar os próximos cinco anos”.
As pesquisas sugerem que o partido Irmãos da Itália, de Meloni, pode vencer com 27 por cento dos votos – mais do que quadruplicando sua pontuação em relação a 2019 – em meio a uma onda mais ampla de grupos de extrema direita em todo o bloco.
Walter Esposito, um romano de 78 anos, votou no partido dela em protesto contra as políticas ambientais da UE, queixando-se: “A Europa sempre tentou esmagar a Itália e o povo italiano”.
No outro extremo do espectro político, Carlotta Cinardi, uma estudante de 18 anos, disse não encontrar nenhum partido que “representasse 100 por cento as minhas ideias” – mas votou nos verdes como o “mais progressista em relação aos jovens”.
Uma vitória poderia colocar Meloni como um mediador poderoso na determinação se a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, obtém o apoio de que necessita, tanto dos Estados-membros como do Parlamento, para um segundo mandato.
Meloni tem sido ativamente cortejado tanto pela centro-direita von der Leyen – como pela líder francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, que quer criar um supergrupo de direita na UE.
Mas um diplomata europeu alertou contra a superestimação da sua influência.
“Meloni terá influência nos interesses italianos, na comissão, no parlamento”, disse o diplomata, que pediu para não ser identificado. “Ela vai jogar o jogo. Mas isso faz dela uma fazedora de reis? Não.”
Por enquanto, Meloni mantém as cartas fechadas – embora deixe claro que pretende relegar os partidos de esquerda da UE para a oposição.
– Alianças –
A preocupação pública com o fluxo de migrantes irregulares através do Mediterrâneo foi uma das principais questões que impulsionaram Meloni ao poder em 2022.
Em toda a UE, a imigração é a questão polémica que impulsiona o apoio aos partidos de extrema-direita. Prevê-se que conquistem um quarto dos assentos no Parlamento – embora a corrente centrista ainda seja vista como vencedora.
Dezenas de milhares de manifestantes reuniram-se em cidades de toda a Alemanha no sábado, pedindo um voto contra a extrema direita, com o partido anti-imigração AfD a registar cerca de 15 por cento.
Para além do aumento previsto, os analistas dizem que a grande questão é se o principal grupo do parlamento, o Partido Popular Europeu (PPE), de von der Leyen, se aliará à extrema-direita.
Von der Leyen indicou vontade de que o PPE trabalhe com legisladores de extrema direita, desde que sejam pró-UE e não o que ela chama de “fantoches” do presidente russo Vladimir Putin.
Por estes motivos, Von der Leyen descartou explicitamente a possibilidade de se aliar ao Rally Nacional (RN) de Le Pen, que está no topo das sondagens francesas, ou à AfD da Alemanha.
Ambos os partidos – ao contrário do de Meloni – estão desconfiados do apoio militar e financeiro da UE à Ucrânia contra as forças invasoras da Rússia, sendo a AfD abertamente hostil às entregas de armas.
Na Hungria – onde dezenas de milhares de pessoas se manifestaram no sábado em apoio ao líder da oposição Peter Magyar – o partido populista Fidesz, de Viktor Orban, também se opõe a continuar a ajudar Kiev.
– Eslováquia abalada –
A Itália votava no mesmo dia que a Eslováquia, membro da NATO e da UE desde 2004, abalada por uma tentativa de assassinato no mês passado contra o primeiro-ministro Robert Fico.
Os eleitores reuniram-se no campo amigo da Rússia de Fico após o tiroteio – que ele atribuiu à “política agressiva e odiosa” da oposição.
As autoridades disseram que a tentativa de assassinato, cometida por um poeta de 71 anos, teve motivação política.
Jozef Zahorsky, um professor de 44 anos, disse que votou no partido nacionalista de esquerda Smer-SD, de Fico, porque este representava “os interesses da Eslováquia, não de Bruxelas”.
O partido de Fico opõe-se às entregas de armas da UE para ajudar a Ucrânia a repelir a invasão da Rússia e critica os alegados “fomentadores da guerra” em Bruxelas.
Em uma postagem no Facebook, Fico postou uma fotografia sua votando em sua cama de hospital. Ele instou os eleitores a “elegerem legisladores do Parlamento Europeu que apoiem os esforços de paz, não a busca pela guerra”.
(Exceto a manchete, esta história não foi editada pela equipe da NDTV e é publicada a partir de um feed distribuído.)