A equipa que murchou com a Revolução dos Cravos

ENos primeiros meses de 1974, a CUF (Companhia União Fabril) era um conglomerado português que detinha bancos e investimentos financeiros, companhias de seguros, empresas de engenharia, empresas dos setores químico, têxtil, de higiene e alimentar, metalúrgico ou elétrico. , indústrias petroquímicas, minas, estaleiros navais, hotelaria e turismo, aluguer de veículos… Em cada um destes sectores, diversificou também as suas apostas, para transformar o grupo criado por Alfredo da Silva num verdadeiro ‘império’. no final do século XIX.

Situado em comparação com Lisboa, do outro lado do estuário do Tejo, aliás pode-se chegar mais cedo de ferry do que de carro, o Barreiro foi uma vila piscatória que rapidamente se tornou, e promovida por Da Silva e pela CUF, o principal centro fabril. do país. A Obra Social, uma política de fortalecimento dos vínculos entre os trabalhadores e o seu local de trabalho, serviu até para construir um bairro com cuidados médicos, refeitórios, creches… e instalações desportivas. Ali estavam lançadas as bases para o nascimento de um clube que só se consolidaria em 1937..

O Grupo Desportivo CUF também se destacou noutras modalidades, como o hóquei em patins por exemplo, mas atingiu o seu apogeu com o futebol. Sua estreia na categoria máxima aconteceu em 1942, mas A estabilidade só foi alcançada em 1954: a promoção como campeão da Segunda Divisão trouxe consigo 22 temporadas consecutivas entre os grandes. Na campanha 64-65 alcançaram o terceiro lugar, o que lhes permitiu enfrentar o Milan na Copa das Feiras depois do Milan. “Equipe magnífica. Uma surpresa. Muitos pensaram que era um treino. Agora estão suando e acham que é um sonho ter vencido”, disse Cesare Maldini depois que a seleção transalpina só conseguiu se livrar dos portugueses no desempate.

O Vojvodina iugoslavo, treinado aliás por Vujadin Boskov, e o alemão Kaiserslautern também estiveram entre os rivais que passaram pelo novíssimo estádio. Alfredo da Silva, um dos melhores do país naquela época, com capacidade para 22 mil espectadores. Desses tempos de dinamismo, recorda-se, por exemplo, que a comissão técnica dispunha de t-shirts das restantes equipas… para preparar cada jogo com o maior realismo.

Equipe magnífica; Muitos pensaram que era um treino e agora acreditam que é um sonho ter vencido.

Cesare Maldini (depois de enfrentar o Milan contra a CUF)

Chegou a madrugada do 25 de abril de 1974, há 50 anos, e a rádio Rádio Renascença lançou um movimento insurgente ao transmitir a famosa ‘Grândola, Vila Morena’, canção até então proibida pelo regime totalitário. Essa transmissão foi o sinal que serviu para os militares democratas ocuparem os locais estratégicos do país. Foi a Revolução dos Cravos. Uma vez derrubado o governo, uma das medidas tomadas foi a nacionalização dos bancos e das principais empresas portuguesas. Entre eles, a CUF.

O clube e a equipe entraram em crise a partir daí. Aquele campeonato que já estava em declínio, conquistado aliás pelo Sporting, ficou completo com um honroso oitavo lugar que se repetiria ainda uma época depois, mas 75 a 76 foi o colapso final: último colocado com apenas quatro jogos vencidos entre os 30 disputados, o GD perdeu uma categoria que nunca conseguiu recuperar. A perda de competitividade no plantel, as carências económicas da nova situação e até a prisão momentânea de Jorge de Mello, então presidente, provocaram uma tempestade perfeita.

O clube acabou por se desfazer de qualquer referência ao grupo empresarial para se tornar primeiro Grupo Deportivo Quimigal e agora Grupo Deportivo Fabril, que, orientado por Toni Pereira, caiu para o oitavo lugar da Série D portuguesa, apenas dois pontos atrás dos lugares de despromoção. . O Barreiro recuperou o gosto de enfrentar uma grande equipe em novembro de 2020, quando o empate da Taça deu origem ao duelo com o Porto, mas a pandemia obrigou-os a jogar num Alfredo da Silva sem espectadores e o resto foi proporcionado pelos golos dos espanhóis Toni Martínez e Taremi para os ‘Dragos’. Qualquer época do passado foi definitivamente melhor para uma equipa que foi vítima indirecta da Revolução que, afinal, serviu para acabar com uma ditadura.

EFE

JOGADORES DE FUTEBOL LIVRES APÓS A QUEDA DE SALAZAR

Encontro do Sindicato dos Jogadores Portugueses na década de 70. A Revolução dos Cravos significou também a libertação e o reconhecimento dos direitos laborais dos jogadores de futebol profissionais, que até 1974 estiveram sujeitos à chamada ‘Lei de opção’ da ditadura de António Salazar.



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