Escolas e universidades, antes e depois de abril — 100 anos de educação

Os fundamentos do sistema

A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), aprovada em 1986, institucionalizou o modelo de organização do ensino básico que ainda persiste, traduzido pela fórmula 4+2+3 – ou seja, quatro anos do 1.º ciclo, dois anos do 2.º ciclo e três anos no 3.º ciclo. A escolaridade obrigatória, a Acção Social Escolar e o ensino especial são gratuitos. E a educação pré-escolar também passa a fazer parte da organização do sistema educativo, entre diversas outras mudanças estruturantes. São vários os obstáculos a superar para se alcançar o que também é conhecido como “Reforma de Roberto Carneiro”, o ministro que a promoveu. Não há professores suficientes, nem com as devidas habilitações, nem manuais, nem escolas suficientes para cumprir os nove anos de escolaridade obrigatórios, lembra o relatório do Conselho Nacional de Educação Expansão da escolaridade obrigatória: contextos e desafios. E há ainda outra dificuldade: o trabalho infantil. “Programas especiais de combate ao trabalho infantil foram lançados na década de 90, com o objetivo de afirmar, entre as famílias e os jovens, que a escola era o espaço adequado para o seu desenvolvimento.”

O Ministro da Educação, Roberto Carneiro, ao lado do Secretário de Estado José Alarcão Troni, durante entrevista coletiva sobre as mudanças em curso na educação, em dezembro de 1988. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Em 1933, o professor e jornalista Agostinho de Campos escreveu uma frase contundente sobre alguém que previa a necessidade de uma “reforma geral do ensino”: “Melhor seria dizer, desde já: precisamos de um milagre de Nossa Senhora de Fátima. ” Nos 30 anos desde a aprovação da Lei Básica, o ex-ministro da Educação Guilherme d’Oliveira Martins colocou o dedo na mesma ferida, embora, como destacou, o desfecho tenha sido diferente: “A tradição das nossas reformas educativas é que eles não chegaram ao fim. Este não foi o caso, felizmente.” Paralelamente, deu também conta do ambiente político que existia aquando da aprovação da LBSE: “Não havia maioria parlamentar na Assembleia da República e, portanto, foi necessário procurar e encontrar consensos muito exigentes e duradouros, que tiveram resultados positivos.”



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