Voluntários coletam lixo em um barco no rio Tonle Sap durante o Dia Mundial da Limpeza em Phnom Penh, em 17 de setembro de 2022. (Foto de TANG CHHIN Sothy / AFP)

A Human Rights Watch acusou o governo de tentar “amordaçar as críticas”.

Um tribunal cambojano condenou um grupo de activistas ambientais por conspirar contra o governo e insultar o rei.

Os 10 ativistas, do grupo conservacionista Mãe Natureza, foram condenados na segunda-feira a seis a oito anos de prisão. As ONG de defesa dos direitos humanos alegaram que o julgamento se destinava a “amordaçar as críticas às políticas governamentais”.

As acusações referem-se ao ativismo da Mãe Natureza entre 2012 e 2021, documentando suspeitas de poluição no rio Tonle Sap, que deságua no maior lago de água doce do Sudeste Asiático e é um importante centro de pesca.

O grupo também levantou questões relacionadas com o enchimento de lagos em Phnom Penh, a exploração madeireira ilegal e a destruição de recursos naturais em todo o país.

As acusações adicionais de insulto ao rei, dirigidas a três dos ativistas, centram-se numa reunião interna da Zoom que vazou sobre cartoons políticos.

Após a sentença, quatro dos réus foram presos pela polícia fora do tribunal, informou a AFP.

Seis outros foram condenados à revelia, incluindo o cofundador da Mãe Natureza, Alejandro Gonzales-Davidson. O cidadão espanhol foi deportado do Camboja há quase uma década.

Voluntários recolhem lixo em um barco no rio Tonle Sap, em Phnom Penh, em 17 de setembro de 2022 (Tang Chhin Sothy/AFP)

‘Desumano e cruel’

A prisão dos activistas ocorre num contexto de preocupações crescentes sobre a liberdade de expressão no Camboja sob o governo do primeiro-ministro Hun Manet, que assumiu o poder no ano passado, após décadas de governo do seu pai, Hun Sen.

A Human Rights Watch (HRW) condenou no mês passado o julgamento como uma tentativa de “amordaçar as críticas às políticas governamentais”.

“Este regime não só está desligado da realidade, como também nos mostrou quão desumano e cruel pode ser para com aqueles que se atrevem a defender o que é certo”, disse Gonzales-Davidson à Reuters.

O governo negou anteriormente que o julgamento tivesse motivação política, dizendo que não processava os críticos, apenas aqueles que cometiam crimes.

A disputa sobre a protecção ou exploração dos recursos naturais do Camboja tem sido uma questão controversa no reino, com ambientalistas ameaçados, presos e até mortos na última década.

Três dos activistas condenados na terça-feira já tinham sido presos por organizarem uma marcha pacífica de protesto contra o enchimento de um lago na capital para criar terrenos para empreendimentos imobiliários.

De 2001 a 2015, um terço das florestas primárias do Camboja – algumas das mais ricas em biodiversidade do mundo e um importante sumidouro de carbono – foram desmatadas e a perda de cobertura arbórea acelerou mais rapidamente do que em qualquer outro lugar do mundo, de acordo com o World Resources Institute.

Grande parte das terras desmatadas foi concedida a empresas em concessões que, segundo os especialistas, provocaram a desflorestação e a expropriação no país.

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