Marta Xargay e Breanna Stewart com seus filhos.

Cquando Marta Xargay decidiu encerrou a carreira esportiva há três anos, o desejo de ser mãe pesou na balança. A pandemia o ensinou a reorganizar suas prioridades e, entre elas, estava constituir família com Breanna Stewart, a melhor jogadora de basquete da atualidade (MVP da WNBA, campeã olímpica e bicampeã mundial) e sua esposa hoje. E ele realizou seu sonho graças a Ruby (2 anos) e Theo (3 meses).

“É algo que queremos e acho que estava num ponto da minha carreira em que Já tinha conseguido tudo o que queria e estava satisfeito.. Admiro todas as mães atletas de elite porque é um sacrifício de 24 horas. “Se você quer constituir família, às vezes é preciso acabar com uma coisa para começar outra”, disse ele à MARCA após receber o Prêmio da revista Gigantes para sua carreira lendária.

Então, Xargay tinha 29 anos e era um ícone do basquete: 14 títulos de clubes, 147 internacionalizações e sete medalhas pela seleção (incluindo dois ouros europeus, a prata olímpica Rio 2016 e uma prata mundial). Depois de anunciar seu adeus, demorou um pouco para tocar novamente na bola. “Tenho sentimentos confusos em relação ao basquete. Até hoje sinto falta em momentos específicos, como uma final e compartilhar com meus companheiros, mas quando me aposentei fiz porque queria muito e não sinto falta. “Ter que treinar mais todos os dias e coisas assim deixo para os outros”, diz ela com um sorriso.

Tenho sentimentos confusos sobre basquete

Marta Xargay, prata olímpica no basquete

Eles moram entre Nova York, onde Breanna joga, e Girona. Ela ocasionalmente a ajuda em alguns treinos quando estão na Espanha, mas na Big Apple ela só joga basquete com a filha na cesta de brinquedos de casa. Ruby, que apesar da pouca idade já mostra caráter, agora começou a chutar a bola. Quem sabe ela vai trocar pela cesta! “Não vamos forçá-la a brincar, deixar que ela faça o que quiser, o importante é que ela esteja feliz”, afirma.

Marta Xargay e Breanna Stewart com seus filhos.@martaxargay

Sua melhor medalha

Feliz como esteve por tantos anos por praticar e viver de um esporte pelo qual era apaixonada, embora “Nem tudo o que reluz é ouro”. Essa expressão apareceu na carta de despedida que postou em suas redes para anunciar sua aposentadoria. “Por trás de muitos atletas de elite existe, acima de tudo, solidão e muito sacrifício. As pessoas não sabem que você sente falta do Natal, do aniversário, do nascimento de um familiar…”, explica.

Agora é difícil vê-la sozinha e sentada. Seus dias passam entre fraldas, mamadeiras e creche. “Meus dias estão uma loucura. É uma nova etapa da minha vida e vê-los crescer é mágico. Ruby agora está mais consciente desse tipo de vida. E Tentei explicar para ele que a mãe também jogava basquete, que não só a mãe“ele confessa.

É mais difícil ser mãe do que atleta de elite? “Claro”, ele responde sem hesitação. “É um trabalho 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem parar. Mas o cansaço preenche você de todas as maneiras que você pode imaginar.”. Os filhos são alegria e felicidade constantes”, insiste, sorrindo. “Sem dúvida, a família que criamos é a minha melhor medalha”, acrescenta.

Sem dúvida a família que criamos é a minha melhor medalha

Marta Xargay, medalhista olímpica no basquete

Superar o transtorno alimentar

A primeira gravidez foi por barriga de aluguel; o segundo, porém, biológico. “Desta vez a relação com a comida já era boa, mas da primeira vez não teria sido uma gravidez saudável. Teria colocado em risco o meu corpo e o de um bebê. muito embora o final da gravidez foi complicado porque eu mal conseguia me mexer. Eu era uma criança muito grande”, explica. Theo pesava 5,5 quilos ao nascer. “Os últimos meses foram difíceis porque também era verão e fazia calor, era quase como se eu tivesse jogado todos os dias”, diz ele, rindo.

A reta final da gravidez foi como jogar um jogo todos os dias

Marta Xargay, prata olímpica no basquete

Quando ele fala sobre sua relação com a comida refere-se à bulimia que sofreu durante a passagem pelo clube russo Kursk, onde Lucas Mondelo, o ex-técnico, foi seu treinador. Xargay o acusou de cuidar do que ela come, chamando-a de gorda (ela pesava 67 quilos e tem 1,82m de altura), gerando insegurança e contínua falta de respeito.

Ele conseguiu superá-lo graças à ajuda de uma psicóloga. “É claro que é algo que precisa ser trabalhado. Não é um caminho fácil, mas acredito que com ajuda e vontade de sair dele é possível. Agora vivo uma vida normal, gosto de comida e tudo mais”, diz sorrindo.

Ele não voltou a falar sobre esse episódio. “Contei a minha história, não quis falar mais nada depois porque é uma coisa que eu queria contar naquele momento e ajudar as pessoas. existe um limite e isso é algo que aprendi ao longo da minha carreira”, deixa como reflexão.

Minha relação com a comida já é boa, na primeira vez não teria sido uma gravidez saudável

Marta Xargay, prata olímpica no basquete no Ro 2016

“É muito fácil falar que a saúde mental tem que ser cuidada, mas na hora que alguém fala você também tem que cuidar, não deve agredir. É difícil dizer algo que realmente o machucou e por que você está passando por momentos difíceis. No momento em que alguém decide contar o seu caso, devemos apoiar, ouvir e respeitar”, acrescenta, lembrando casos como o de Ricky Rubio ou Simone Biles.

Xargay encontrou a felicidade na família e no basquete, mas vivendo nas arquibancadas. Ele não descarta ampliar a família, mas por enquanto pretende ter duas. “Sempre quisemos cinco, um quinteto inicial, mas por enquanto deixamos aqui, vamos ver o que acontece”, afirma, deixando a porta entreaberta para sermos uma família numerosa.



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