Laia Pujol: “É preciso pensar que valerá a pena”

Eeu Super galo europeu conquistado por Tânia Alvarez último sábado em Castellbisbal coloca o foco no boxe feminino. O crescimento desta disciplina é claro, mas o caminho para assinar grandes manchetes é árduo, sacrificial e sem recompensas imediatas. O Catalão Laia Pujol Martínezdo Equipe Tony Moreno, assim como Álvarez, é amador há sete anos. Com 29 lutasé um testemunho de luxo para analisar o que acontece por trás das 16 cordas.

Quando Laia calçou as luvas pela primeira vez, ela não imaginava essa paixão. Seu time de basquete rubi, sua cidade natal, ele se separou e tentou o boxe. E ele foi fisgado. “Aos seis meses, tive minha primeira briga”, lembrar. Sua carreira é impecável e ele foi vice-campeão da Copa Iberdrolade Espanha sim campeão da Catalunha. No torneio da Amizade em setembro de 2022 ela ficou em segundo lugar depois de lutar contra o italiano Giordana SorrentinoOlímpico no Jogos de Tóquio.

Ricardo Herranz

Laia Pujol É um dos maiores expoentes do boxe amador em território nacional e não esconde a vontade de dar o salto para o mundo profissional, decisão que ela e o seu treinador deveriam tomar: “Gostaria, espero. No começo você não pensa em nada. Quando comecei nisso, meu sonho era estar na seleção espanhola, embora isso significasse ir para o CAR de Madrid. E tem a família, o casal, a oposição… Você está lutando por pequenos objetivos“.

Uma recompensa de longo prazo

Três horas de treinamento e cortes de peso espartanos trazem recompensas limitadas. Ela não fala de números, mas é segredo que no mundo amador o retorno monetário é insignificante. Embora para Laia Ele é movido por sua paixão por este esporte. “É preciso pensar que valerá a pena, que no longo prazo a recompensa virá”reflete sentado no ringue Trem em Barcelonaum clube onde ela ensina meninas e meninos menos habilidosos e espertos do que ela em suas aulas.

“Ao me tornar profissional ou fazer parte da seleção espanhola, seria recompensada por todo o trabalho amador que fiz”, afirma. Seu treinador, Tony Moreno, confie no seu crescimento. “Os resultados estão aparecendo, mas ele acha que deveria trabalhar mais a socada”, reflete. Laia diante de um possível salto para o mundo profissional. Sua dedicação, em todo caso, é máxima.

Aliás, a catalã não esconde que se considera uma atleta de elite. “Penso no boxe o tempo todo. Na alimentação, no descanso… encaro como se fosse meu trabalho”, explica. Em outros países como Inglaterra ó EUA Um boxeador amador pode se tornar profissional com 200 lutas, em Espanha o cenário é diferente. “Você não tem tantas oportunidades de atirar em si mesmo. O boxe não tem tanto valor aqui e precisamos de visibilidade“, garante.

Tânia Álvarez, uma referência

O sucesso de Tânia Alvarezrecente Campeão europeurepresenta uma injeção de moral para um esporte que precisa de estímulos. Laia Pujol não esconde a alegria pelo companheiro, tanto do ponto de vista pessoal como desportivo: “Para mim, Tânia é uma referência. Vejo todos os dias o quanto ela trabalha e se esforça e o quão longe ela está chegando. Isso me faz pensar que se eu trabalhar como ela poderei competir na mesma coisa no futuro”.

O catalão confessa ser “muito feliz” pelos sucessos de Álvarez e também destaca a importância de seus triunfos para o boxe feminino. “De alguma forma, está abrindo as portas para aqueles que buscamos. Se em algum momento eu tiver a sorte de me profissionalizar, o Toni (seu treinador) terá ganhado espaço por ter trabalhado com a Tania. E já saberei como é esse mundo”, prevê ela, entusiasmada.

O boxe feminino tem deveres

Esta disciplina tem mais atenção do que antes. As licenças de boxe feminino cresceram mais de 20 por cento de 2021 a 2022, de acordo com o Ministério dos Esportes. Em todo o caso, se analisarmos os números, vemos que o caminho a percorrer é longo –1.019 em 2021 e 1.293 em 2022– e você conquista o Peso Super Galo Europeu tem extremo mérito neste contexto.

Oriol Penatreinador e dono do clube Trem em Barcelona, experimentou em primeira mão o interesse pelo boxe feminino. O técnico, que já trabalhou com campeões nacionais e internacionais, passou de ter algumas meninas em sua academia a desenhar horários exclusivamente para o boxe feminino, uma mudança de tendência que o deixa satisfeito.

Oriol Peña, do clube Entrena en Barcelona.

Contudo, ainda há muito a fazer: “Está num bom momento no EUA ó Inglaterra e em Espanha alguma garota começa a sair, tipo Tânia. Isso não aconteceu antes, mas faltam mais elementos para que o boxe, tanto amador quanto profissional, avance“.

Formadora, promotora, nutricionista…

O treinador ressalta a necessidade de profissionalizar tudo que envolve as lutas. “Na Espanha você tem que ser gestor, promotor, cutman, nutricionista… Quase tudo é feito pela mesma pessoa. Precisamos de alguém que veja o boxe como um negócio e não se case com nenhum clube. Não temos esse valor nem esse auxílio e é mais difícil assim”, detalha ela ao pedir a um aluno que levante a guarda.

Em sua exposição aparecem nomes como os profissionais Katie Taylor ó Amanda Serrano e o do promotor Eddie Hearnpresidente da Esporte de sala de jogosum dos motores econômicos do boxe, dos quais nou há equivalente na Espanha.

Oriol Pena Ele ressalta ainda que uma boxeadora ganha menos que um homem: “Não é muito justo. Eles geram mais, mas se não for criada uma base para ter um ambiente profissional fica mais difícil para eles conseguirem”. E assim não sairá mais Tanias nem será saciada a fome de, por exemplo, Laia Pujol.



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